São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Morador troca placas em protesto

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

A convivência de dois elevadores idênticos, lado a lado, um com a placa ``social" e o outro de ``serviço", sempre incomodou o industriário Cesar Galantini Neto.
Proprietário de um apartamento em um prédio de classe média em Perdizes (zona oeste de São Paulo), Galantini conta que perdeu a paciência no dia em que ouviu um vizinho reclamar: ``Olha só aquela empregada: teve a coragem de descer pelo elevador social".
``Ouvir aquilo me irritou", diz. Munido de uma chave de fenda, Galantini resolveu partir para a ação. Esperou a madrugada chegar e desceu até a portaria do prédio. Enquanto o vigia noturno dormia, trocou as placas que orientavam os usuários dos elevadores.
Num primeiro momento, o ato não teve maiores consequências: ``Apesar da placa de `serviço', as pessoas continuaram a usar o elevador social, como se nada tivesse acontecido".
Até que um dia, um morador achou que estava entrando no elevador errado e passou a usar o elevador de serviço, com placa ``social". ``Isso mostra como as pessoas são condicionadas. É condicionamento de macaco", diz o industriário.
Depois de um mês, Galantini, 42, resolveu destrocar as placas. ``Foi só uma brincadeira para mostrar como é estúpida essa discriminação."
Galatiini se mudou para um prédio em Vila Madalena, mas ainda é dono do apartamento em Perdizes. ``Não fiz nada contra o prédio, mas contra o racismo de uma pessoa", esclarece.
No prédio onde mora hoje, há dois elevadores separados por entradas diferentes. Por norma do condomínio, as empregadas domésticas só podem usar o chamado de serviço.
``Uso um elevador ou o outro de acordo com a minha vontade", diz.
(MSy)

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