São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Empregada usa escada se o `de serviço' falha

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Boa parte dos cerca de 315 mil empregados domésticos de São Paulo se vale de elevadores para chegar à casa de seus patrões. A maioria deles ``sabe" seu lugar e seu caminho: vai direto ao elevador de serviço.
Se estiver quebrado, subirá pelas escadas. Ou terá de pedir permissão ao zelador para tomar o elevador social.
Nem sempre será atendido. A empregada doméstica Sandra S.O., 20, diz que muitas vezes subiu 13 andares para chegar ao apartamento onde trabalhava, na av. Juriti, em Moema, na zona sul. ``Toda segunda o elevador de serviço estava parado. O zelador só apontava o caminho da escada."
O assunto elevador foi tema de muitas conversas no sindicado que reúne as empregadas domésticas em São Paulo. Elas acham que a lei é uma ``questão de dignidade".
``Se você está com o cachorrinho do patrão, aí você vira gente e pode subir pelo elevador social. Isso é uma humilhação", diz Gildaci de Jesus, diretora do sindicato.
Ela relata que durante muitos anos teve de entrar pela garagem do prédio onde trabalhou, na praça Buenos Aires, na zona oeste. ``Um dia chamei a polícia e entramos pela porta da frente."
Francilene Evangelista da Silva, 20, que trabalhou num prédio de Higienópolis, disse que o elevador de serviço despencou do 9º ao 6º andar. ``O teto caiu na minha cabeça", diz. ``As empregadas tinham tanto medo do elevador que subiam pelas escadas."
A prática de restringir o acesso dos empregados a elevadores de serviço não se limita a condomínios de classe média alta. Ela se espalha por todos os bairros e é regra mesmo em prédios modestos, onde os dois elevadores servem um mesmo hall.
Verônica Regis, 27, trabalhou num edifício da rua Caiubi (zona oeste), onde a mulher do síndico ficava sentada junto aos elevadores ``separando as domésticas dos moradores". O prédio é um dos mais simples da rua.
A ordem estabelecida num dos grandes condomínios da rua Voluntários da Pátria, na zona norte, foi quebrada pela empregada Emerenciana Lúcia de Oliveira, hoje uma das diretoras do sindicato.
``A gente se revoltou e decidiu usar o elevador social", conta. ``Não adiantava cara feia de zelador nem de morador. Aos poucos, eles foram aceitando."
O sindicato definiu sua posição em assembléia: a empregada não faz questão de subir com o patrão, mas quer ter o direito de usar os dois elevadores, principalmente se o de serviço estiver parado.
``A divisão aumenta o preconceito", diz Helena Conceição, que trabalha nos Jardins. ``Pelo elevador de serviço tem de subir quem tem cara de pobre e de empregado."

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