São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Sindicalista sobe pelo de serviço

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A cozinheira Cacilda Gomes Pimenta, 54, tem as chaves das duas portas do apartamento de sua patroa. Poderia subir por qualquer um dos elevadores, mas prefere o de serviço.
Cacilda é a presidente do sindicato que reúne os trabalhadores domésticos de São Paulo. Como cidadã, ela prefere não se misturar com os patrões. Como sindicalista, ela quer o fim da separação dos elevadores.
``Nós trocamos a fralda dos filhos dos patrões, fazemos a comida deles, passamos o dia na casa deles. Por que não podemos subir no elevador com eles?"
Sua patroa, a executiva Elizabeth Chagas, 42, diz que é contra o projeto que pretende acabar com a diferença de elevadores. ``Discriminação não se acaba com lei", diz. ``O bom senso é mais importante. Tenho duas empregadas em quem confio totalmente. Elas têm minha autorização para subir por qualquer um dos elevadores."
Mas não sobem. O prédio de Elizabeth, nos Jardins, proíbe empregados de usarem o elevador social. ``O condomínio tem um regulamento e eu obedeço. É preciso ter hierarquia. O mundo anárquico não funciona."
Se quebra o elevador de serviço, Elizabeth diz que ``enfrenta" o condomínio para que suas empregadas subam pelo social. ``Já morei no 21º andar e fiz isso várias vezes."
A maioria das convenções de condomínio não prevê alternativas no caso de quebra do elevador. A solução adotada pelos zeladores é a escada.
``Isso preciso acabar", diz Cacilda. ``Empregada não quer ser patrão, quer ser gente."
No sindicato, são frequentes as reclamações de empregadas que não conseguiram mais entrar no prédio para retirar suas roupas ou receber o salário. ``Por ordem das patroas, elas são barradas na portaria", diz Cacilda.
Há relatos surpreendentes, como o contado por Maria de Lourdes Moura Santos, 35, três filhos, empregada em um prédio da rua João Moura, na zona oeste. Para subir na companhia da empregada, os patrões e suas crianças tomavam o elevador de serviço.``Quando quebrava o de serviço, eu ía pela escada."
(AB)

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