São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Aluguel e serviço são os vilões da inflação

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Aluguel e serviços pessoais foram os grandes vilões da inflação do primeiro ano do Plano Real.
Para uma inflação estimada em 32,1% nos últimos 12 meses, o aluguel subiu 209,68%, os serviços domésticos, 171% e os serviços pessoais, 115%. Os dados são da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Em patamares abaixo dos 100%, mas também em taxas elevadas para uma inflação anual ao redor de 32%, estão os serviços médicos, com aumento de 60%, e matrículas e mensalidades escolares, com reajustes de 56%.
Na outra ponta, há os preços dos alimentos, por exemplo, com alta de 23,83%.
Mas o problema, diz Juarez Rizzieri, diretor-presidente da Fipe, é que os gastos com aluguel (principalmente) e com serviços pessoais devem continuar subindo acima da inflação pelo menos nos próximos dois ou três anos.
``Nos aluguéis, vale a lei da oferta e procura e no Brasil há grande procura por locais para morar", diz Rizzieri.
Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, diz que o governo deveria ter tentado adequar os preços dos aluguéis enquanto estava começando a pensar nas medidas para conter a inflação.
``Seria a forma de evitar tanto impacto na inflação', afirma.
José Maurício Soares, secretário-técnico do Dieese (órgão de assessoria técnica aos sindicatos), acrescenta que o impacto desses aumentos são bastante relevantes nos índices de inflação.
No índice da Fipe, por exemplo, habitação tem peso de 26,51% e despesas pessoais, de 12,97%.
A justificativa para os reajustes acima da inflação está, essencialmente, na impossibilidade de aumentar a concorrência nestes setores. Soares, do Dieese, diz que a inflação do Plano Real é, principalmente, dos produtos que o governo não pode importar.
``Um corte de cabelo subiu 87,2% desde o início do Real até maio último. Mas é inviável importar barbeiros", diz Soares.
O mesmo raciocínio vale para aluguéis, médicos e dentistas, faxineiras, entre outros.
A estabilidade gerada pelo plano também abriu espaço para reajustes nos preços dos serviços. Em todos os meses, as tabelas de preços de mecânicos, cabeleireiros, entre outros, tiveram aumentos maiores que a inflação.
Outro problema é que as pessoas ficaram sem parâmetro para saber quanto vale, por exemplo, um corte de cabelo ou um dia de faxina.
Preocupado com a questão, a secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda estuda, junto com a Superintendência Nacional de Abastecimento, vai lançar uma pesquisa comparando os preços dos serviços no Brasil e em diversas cidades do mundo.

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