São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995 |
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Desindexação deve segurar os preços
SUZANA BARELLI
A opinião é do diretor-presidente da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Juarez Rizzieri. ``A maior dificuldade é o governo conseguir desindexar a economia sem realimentar a inflação", diz Rizzieri, para quem o governo está certo ao iniciar a desindexação com os salários. Para ele, a desindexação salarial abre espaço para o governo mexer no câmbio sem trazer maiores impactos às taxas inflacionárias. Mas, segundo Rizzieri, alguns instrumentos devem tornar mais lento este processo. ``Os resíduos do IPC-r, nas datas-bases, devem tornar a desindexação da economia mais lenta", diz o presidente da Fipe. Outra questão, diz Rizzieri, é como a Justiça do Trabalho vai se comportar no julgamento de dissídios e greves. ``Diversos sindicatos também não estão preparados para a livre negociação e vão querer proteger os salários com algum índice de correção." ``A desindexação não vai pegar se ficar apenas no salário", diz Soares, para quem governo e sociedade poderão, em três ou quatro meses, criar novos parâmetros para uma nova correção automática dos salários. Para Sérgio Mendonça, diretor-técnico do Dieese, o governo não pode jogar suas fichas apenas na desindexação para tentar segurar a inflação. ``Sem as reformas fiscal e tributária, a inflação não vai cair", diz Mendonça. Para tentar segurar a inflação, Rizzieri sugere que o governo espere até setembro para reajustar as demais tarifas que estão com preços defasados. ``Os aumentos de tarifa de transportes e gás já criaram uma barriga na inflação em junho e julho", diz. Segundo ele, o governo deve esperar a queda da inflação em agosto para depois promover novos reajustes. ``Não podemos criar fatos que realimentem constantemente a inflação", diz Rizzieri. Um perigo para a inflação, aqui, é que o mês de julho abre espaço para todos os reajustes dos produtos com preços congelados há um ano. ``Não sabemos se a virada de um ano do Real não será acompanhada por novos reajustes", diz Soares, ao lembrar que o preço do pão francês teve aumento médio de 22% em junho. Soares conta que na véspera da URV (Unidade Real de Valor) diversos empresários reajustaram, preventivamente, seus preços. Em valores convertidos para real, o preço médio da cesta básica Procon/Dieese estava em R$ 80 em 93 e passou para R$ 86 na virada do ano, diz Soares. ``Agora, o custo da cesta está estável, mas no patamar de R$ 101", diz. Instrumentos Ao lado da desindexação, há outros fatores que podem manter a inflação baixa. O primeiro deles, diz Rizzieri, é a atual redução da atividade econômica. ``Com a economia desaquecida, é provável alguma redução no salário real e na demanda." A inadimplência (atraso de pagamentos) recorde também contribui para um freio no crescimento econômico -não há dinheiro para tocar a economia, diz Rizzieri. Os preços dos alimentos -importante fator de queda da inflação no primeiro ano do real- também devem ter reajustes abaixo da inflação. O perigo apontado pelos economistas é a entressafra da carne bovina e do leite, no segundo semestre. ``Há uma boa oferta de alimentos, devido à safra agrícola recorde", diz Soares, do Dieese. (SB) Texto Anterior: Aluguel e serviço são os vilões da inflação Próximo Texto: Motorista paga 30% mais por médico Índice |
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