São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995 |
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Motorista paga 30% mais por médico
SUZANA BARELLI
O motorista de táxi, Wilson da Silva, 44, afirma que já está pesquisando preços em mecânicos. ``O meu carro está saindo do tempo de garantia e sei que estes serviços subiram uma enormidade depois do real", conta. Ele diz que a consequência desta alta é que ``não está sobrando nada" para depositar na caderneta de poupança. Um exemplo, conta Silva, é que as suas despesas com médico subiram 30% em junho. ``Acho que os preços vão continuar subindo", diz, ao lembrar do recente aumento do pão francês. Ele conta que devido à alta dos preços, as pessoas estão diminuindo o uso do táxi. ``Somos um termômetro e quando as pessoas começam a andar menos de táxi é porque alguma coisa vai mal na economia", diz Silva. Atualmente, ele diz, o problema são os preços em alta. Aluguel triplicado A comerciante Nazareth Amaral, sócia de uma papelaria na região central de São Paulo, conta que o preço do seu aluguel triplicou nos 12 meses do real. ``E a negociação está difícil com o proprietário, que toda hora pede novo reajuste", diz. Nazareth afirma que tem gasto mais com o lazer dos filhos e com os serviços domésticos. ``Dispensei a faxineira porque ela quis aumentar a diária de R$ 18 para R$ 30." A diversão de seus dois filhos adolescentes é outra pressão de gastos. ``Eles pedem constantemente mais mesada, porque o cinema e os lanches fora de casa estão mais caros", afirma. Mas ela diz que o Plano Real está dando certo e que tem a impressão que a ``economia já está estabilizada". ``As pessoas estão comprando mais, principalmente os produtos considerados supérfluos", diz Nazareth, que trabalha no comércio há 22 anos. Luzia Aparecida dos Santos, 49, conta que sua cabeleireira reajustou recentemente o corte de cabelo de R$ 5 para R$ 10. ``É um absurdo um aumento de 100%", afirma. As consultas no médico -a sua filha Isabel Cristina dos Santos está grávida- passaram de R$ 30 para R$ 40 há dois meses. Novos gastos Luzia e Isabel Cristina dos Santos contam que aproveitaram o início do Plano Real para fazer os gastos necessários. Desde julho do ano passado, elas já compraram um televisão, um aparelho de som, um fogão e um exaustor. Suas compras foram parceladas em três vezes. ``Antes do plano de estabilização, a gente tinha de pensar muito antes de comprar alguma coisa. Agora, está mais fácil comprar as coisas", diz Isabel. A telefonista Jorleide Lisboa da Silva Sena, 31, conta que seu médico tem reajustado as consultas, que agora chegam a R$ 50. ``Os preços dos remédios também estão muito caros, um verdadeiro absurdo", diz. Apesar de achar que a sua vida melhorou com o Real -ela agora está comprando uma geladeira nova em nove prestações de R$ 73-, Jorleide diz que são os serviços que estão subindo. ``Todo mundo que vive de aluguel está perdido, pois os donos das casas querem subir o preço toda hora", diz. O eletricista Fábio Francisco dos Santos conta que o preço mais alto do aluguel (ele não diz quanto subiu) é o principal responsável pelo atraso na sua prestação. Na sexta-feira passada, ele foi à Associação Comercial de São Paulo para começar a tirar seu nome do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da entidade. Desde janeiro, Fábio vinha atrasando a prestação de um carro (uma Brasília ano 76), comprado em junho de 94 por 12 prestações. ``Estava pagando em atraso de um mês e com todos os juros incluídos. Não tinha cabimento a empresa me processar." Texto Anterior: Desindexação deve segurar os preços Próximo Texto: Desemprego e mau emprego Índice |
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