São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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O primeiro ano foi bom com o Real

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Quem diria! Há um ano o país promoveu a maior substituição do meio circulante de que se tem notícia nos anos recentes. E isto foi feito com a aprovação da população.
O começo foi bom para o Real, apesar da ridícula taxa de conversão de CR$ 2.750,00 por R$ 1,00; mesmo assim as confusões foram em número reduzido. O povão acumulou um conhecimento prático em conversão de moeda que é insuperável.
Outra explicação: a proximidade da eleição e a memória da traição de Collor -aquele que jurou que não botaria a mão na caderneta de poupança e congelou tudo no segundo dia de seu governo.
Lógico, teve bajulador de plantão que chamou isso de "esperteza"! Eu chamei isso, já naquela época, de perjúrio e safadeza. O presidente faz desacreditar sua palavra logo no início do seu (breve) mandato.
Em oposição a tal clima de perjúrio do começo de 1990, em 1995 o país teve, pelo menos, duas notícias positivas: a consolidação da coalizão política centrista que tem condições de governar o país por 20 anos e a redescoberta da trajetória de crescimento da economia.
Acredito que a economia brasileira deverá crescer de 6% a 7% ao ano nos próximos anos. No ano 2000, nosso PIB estará 40% maior do que o do final de 1994. O momento é de investir, mesmo que o segundo semestre se inicie com uma recessão devido à necessidade de não deixar o déficit comercial aumentar muito.
Nesta fase de desindexação que se planeja para os próximos meses (e que é correta e merece nosso apoio), O Banco Central foi convencido de que é necessário deixar morrer os fundos de moeda indexada. Pelo que se sabe, o Ministério do Planejamento que advogou a desindexação da moeda. Está correto nisso. O ministro Serra merece nosso cumprimento público quanto a este ponto.
O lado das perdas é conhecido: exportadores (menor exportação no segundo semestre de 1995), agricultura (perda de 25% da renda agrícola), São Paulo (falido) e o PT (partido que precisa se educar mais em como governar Estados importantes).
As correções necessárias para o segundo semestre começam pela taxa de câmbio. O preço do dólar no Brasil está 40% inferior ao de janeiro de 1994 e não há como sustentar tal cotação. Projeções simples mostram que o país terá um déficit em conta corrente que pode superar os US$ 25 bilhões, como se comentou neste espaço no domingo passado.
Não adianta postergar a correção; os mercados já incorporaram nos contratos a desvalorização que todos sabem que virá. O impacto na inflação é absorvível; pior será se os mercados passarem a especular sobre quando será a desvalorização.
Outros ajustes inadiáveis: cortar gastos públicos e promover a reforma fiscal. Mas isso é bem menos pacífico.
Mesmo assim, cabe mais um elogio ao governo. Fernando Henrique soube interpretar corretamente a exaustão do público para com os planos mirabolantes. Ganhou a eleição presidencial por isso.
Seu maior acerto em 1993 foi ter chamado para auxiliá-lo jovens economistas cariocas desejosos de pôr em prática aquilo sobre o qual especulavam quando eram estudantes nos Estados Unidos.
Ao preanunciar as etapas do Plano Real, permitiu-se que os agentes levassem em conta a mudança anunciada. Assim, não houve necessidade de quebrar contratos. Esta é uma contribuição brasileira aos governos que, no futuro, tenham que conceber um plano de combate à inflação elevada, do tipo que tínhamos.
Para finalizar, estou confiante de que nos próximos 12 meses a inflação não ultrapassa a casa dos 20% acumulados. Mas, mais importante, o país voltou a reconhecer que precisa crescer, que sabe crescer e que quer crescer.

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