São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Investimentos diretos provocam instabilidade

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O investimento das multinacionais pode ser tão instável e problemático quanto o ``hot money" e o dinheiro especulativo. A rigor, pode até mesmo agravar os momentos de crise externa, em vez de auxiliar nos processos de estabilização.
A tese poderia muito bem estar num panfleto do PT ou fazer parte do discurso de algum ``dinossauro" da esquerda nacionalista. Afinal, como tanto se ouve nos últimos tempos, um país ou uma política econômica que privilegiem a atração de investimentos produtivos estará dando passos rumo à estabilidade.
Cita-se frequentemente o Chile como exemplo de acerto na seleção de capitais externos, através de políticas que impõem custos ao capital especulativo.
Entretanto, feliz ou infelizmente, a tese de que o investimento direto estrangeiro pode criar instabilidade não está no programa de nenhum partido esquerdista.
É uma das conclusões intrigantes de um estudo recentemente patrocinado por nada menos que o Fundo Monetário Internacional, o FMI.
Preparado por uma equipe de 15 especialistas do departamento de ``Policy Development and Review" (revisão e desenvolvimento de políticas), o relatório foi publicado em março sob o título ``Private Market Financing for Developing Countries" (Financiamento nos Mercados Privados para Países em Desenvolvimento).
Uma das ``verdades" econômicas amplamente difundidas que os economistas do FMI tratam de criticar é justamente essa distinção entre capital produtivo e capital especulativo. Mais especificamente, eles alertam para um aspecto técnico de amplas repercussões políticas.
A distinção relevante, dizem, não é aquela entre investimentos diretos (construção de fábricas, por exemplo) e de ``portfolio" (ou de formação de ``carteiras", como quando se compram ações em Bolsas de mercados emergentes). Mais importante é diferenciar esses dois tipos de investimento do endividamento.
Diluir a fronteira entre investimento direto e de ``portfolio" é o primeiro passo para apresentar uma conclusão que foi comprovada através de pesquisas. É verdade que as posições de investimento direto raramente são liquidadas rapidamente. Ou seja, ninguém monta e desmonta fábricas da noite para o dia, o tempo todo.
Mas considerando a totalidade das transações associadas ao investimento externo, podem surgir fluxos de recursos negativos, ou seja, significativas saídas de capitais. Especialmente em momentos de crise, quando comumente se imagina que o investimento produtivo é mais ``sólido" ou permanente.
Tal conclusão naturalmente dá margem a muita rediscussão sobre o papel do investimento externo nas tentativas de estabilizar a economia ou mesmo de redesenhar modelos de desenvolvimento.
Mas o estudo não fica nisso. Insiste ainda em dar maior evidência aos resultados de pesquisas mostrando que os mercados financeiros, especialmente os mercados emergentes, tornam-se mais ineficientes justamente quando começam a crescer, como ocorreu no início dos anos 90.
Ou o FMI mudou muito, ou a economia mundial mudou muito. Provavelmente os dois.

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