São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Plano de vacinação global contra a Aids pode custar US$ 30 bilhões

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apesar de todos os esforços de pesquisa e aplicação, a Aids continua a alastrar-se avassaladoramente em todo o mundo.
No ano 2000, calcula a OMS (Organização Mundial da Saúde), haverá pelo menos 40 milhões de pessoas infectadas pelo vírus HIV, com cerca de 10 milhões de mortes.
Dois vírus estão ligados à síndrome da imunodeficiência humana adquirida ou Aids, o HIV-1 e o HIV-2, mas o primeiro é tão mais virulento e comum que, quando se refere ao vírus da Aids, é hábito usar apenas a sigla HIV.
Conhecem-se hoje nove tipos sorológicos ou subtipos de HIV, quatro mais comuns e cinco mais raros. Eles são identificados por letras, de A a H e mais O.
A classificação baseia-se em diferenças de DNA (material básico dos genes) de dois genes conhecidos como "gag" e "env".
Entende o especialista Wayne C. Koff ("Science" 266, 1.335) que a trágica situação só poderá ser combatida pelo uso global de vacina eficaz contra a Aids, que se tornou "prioridade sanitária internacional e urgente.
Outros acham que a pandemia, depois de atingido certo grau, se autolimitará, deixando focos endêmicos isolados.
Muito se tem trabalhado na elaboração dessas vacinas, mas as dúvidas sobre sua alegada eficácia levaram o governo norte-americano a apelar aos cientistas e às empresas farmacêuticas a concentrar todo esforço nesse sentido.
Não obstante, o governo da Tailândia decidiu realizar um grande ensaio clínico em massa em Bangkok.
A velocidade de disseminação da doença naquela região justificaria deixar de lado as discussões acadêmicas e tentar o uso de uma vacina norte-americana.
Animados provavelmente pelo êxito da vacina recombinante contra o vírus da hepatite B, vários cientistas começaram na segunda metade da década de 80 a tentar a produção de vacinas anti-Aids a partir das glicoproteínas que envolvem o vírus e que são muito variáveis.
Essa variabilidade, associada a outros fatores, encerrou a era das vacinas chamadas de primeira geração.
Enquanto isso acontecia, diversos pesquisadores reclamaram contra a concentração quase exclusiva de esforços de pesquisa em vacinas e no abandono de investigação básica sobre o vírus e seu modo de agir, que deveria preceder as tentativas de produzir candidatos a vacinas.
Atendendo a esses reclamos, alguns grupos patrocinados pelo governo norte-americano trataram de estabelecer os critérios científicos para a produção de vacinas, sete ao todo.
Entre eles, destacam-se os que determinam que a vacina a ser globalmente usada deve proteger contra diferentes subtipos ou variantes do HIV e deve induzir proteção duradoura.
Justifica-se este segundo item porque a exposição ao vírus pode ocorrer com grandes intervalos após a imunização.
Embora possa parecer irrealista a vacina "ideal" que possua todos os sete requisitos, Koff acredita que ela é praticamente factível.
Mas isso depende, é claro, de vários tipos de apoio que o autor resume: provisão de incentivos para estabelecimento de atividades biofarmacêuticas; implantação de consenso internacional de critérios para licenciamento das vacinas eficazes; expansão das capacidades internacionais para avaliação da eficácia; aperfeiçoamento dos mecanismos facilitadores de transferência de informação aos fabricantes de vacinas.
Para ter idéia de magnitude da tarefa de globalização vacinante contra a Aids, Koff avalia, por baixo, que o mercado total de uma vacina contra Aids poderia exceder 100 milhões de pessoas, o que importaria no custo de mais de 30 bilhões de dólares para um programa de vacinação global.

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