São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Royal Philharmonic mostra estética refinada

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A música sinfônica pode ser um mero prazer. Mas também pode se tornar bem mais que isso: uma refinada experiência estética.
Se o sistema de som ajudar, é mais para essa segunda hipótese que estará pendendo o concerto gratuito da Royal Philharmonic, regida por sir Yehudi Menuhin, 79, hoje, às 11h, no Ibirapuera.
A orquestra inglesa se apresentará com a violinista russa Natasha Lomeiko, 16, considerada na Europa como uma das solistas mais talentosas de sua geração.
Ela é aluna da escola britânica de música criada por Menuhin, ele próprio -ao lado de Kreisler, Heifetz e Oistrach- um dos maiores violinistas do século 20.
Menuhin, nascido em San Francisco (EUA) e hoje cidadão britânico, trocou seu violino Guarnieri, feito em 1742, por uma batuta que ele qualifica, brincando, de ``pauzinho estúpido que de vez em quando quebra e é preciso substituir por outro".
A idade não permitiu que ele conservasse seu antigo virtuosismo. Mas continua apegado passionalmente à música. ``Ela continua sendo para mim tão necessária quanto o oxigênio, a água e os alimentos", disse na quarta-feira à noite, ao chegar a São Paulo.
Sir Yehudi Menuhin e sua orquestra, criada em 1946 e, portanto, uma formação bastante jovem para parâmetros europeus, apresentaram-se em sua atual turnê em San Francisco e Bogotá. Seguem para Montevidéu e Buenos Aires e, nos dias 8 e 9, se apresentam no Rio.
Seus dois primeiros concertos em São Paulo, no Teatro Municipal, correram por conta da temporada do Mozarteum Brasileiro. A prefeitura é co-produtora do espetáculo de hoje.
Menuhin não compartilha da ortodoxia de alguns maestros, que só se apresentam em salas que possuam uma acústica perfeita.
Gosta de concertos ao ar livre. Evoca dois de seus mais recentes, o primeiro na Cidade do Cabo (África do Sul), para 17 mil pessoas, e outro em Berlim (Alemanha), para 100 mil.
``Não há nenhum problema se for boa a qualidade do equipamento de amplificação", diz ele. E, mesmo quando não é o caso, conclui, o som mal amplificado é preferível ao silêncio.
Quase octogenário, Menuhin é uma espécie de monumento vivo da música. Uma das unanimidades da crítica nos anos 30 consistia em ver nele um enorme e precoce prodígio técnico. Gravou algo em torno de 360 discos.
Ouvi-lo como maestro será hoje um raro privilégio.

Concerto: Royal Philharmonic Orchestra, regida por sir Yehudi Menuhin
Onde: praça da Paz do parque Ibirapuera
Quando: hoje, às 11h
Programa: peças de Rossini, Tchaikovski, Elgar, Mendelssohn, Chausson e Vaughan Williams

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