São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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`Jogam bombas em Israel para nos destruir'

DA "PARADE"

Para milhões de pessoas, Iasser Arafat é um herói -um astuto combatente pela liberdade que, como alguns outros líderes de movimentos nacionais, optou pelo terrorismo como último recurso de quem não tem poder algum.
Para outros, ele é o inimigo -um terrorista internacional responsável pelo massacre de homens, mulheres e crianças inocentes provocados pela OLP.
Um embaixador norte-americano e seu assessor, crivados de balas em Cartum. Onze atletas olímpicos israelenses assassinados em Munique. Um judeu americano aleijado atirado de uma embarcação ao largo da costa síria.
Para muitos Arafat, em função de seu passado, inspira apenas ultraje moral e desconfiança.
Um desses é Kaare Kristiansen, membro do Comitê Nobel, que renunciou a seu cargo em sinal de protesto quando o prêmio Nobel foi concedido a Arafat (ao lado do premiê israelense Yitzhak Rabin).
Para Kristiansen, o passado de Arafat "é demasiado manchado de violência, terrorismo e derramamento de sangue, e seu futuro, demasiado imprevisível".
No entanto, Israel finalmente decidira tratar com esse homem, e outras nações se haviam comprometido a confiar nele. Seria possível contar com ele?
Neste momento, o líder palestino está extremamente irado -e extremamente só. Ele acaba de receber uma ligação urgente do premiê israelense, Yitzhak Rabin. Um atentado suicida praticado por dois militantes islâmicos matou 19 israelenses -18 deles jovens soldados- e feriu 65 outros.
Três meses antes, 21 civis haviam sido mortos numa explosão num ônibus em Tel Aviv. Israel está em estado de choque, e Rabin resolveu retaliar.
``Fizeram outra vez", vocifera Arafat. ``Fecharam nossas fronteiras". Na faixa de Gaza, cerca de 900 mil pessoas vivem apertadas numa área de cerca de 170 km2 -enquanto o terço restante de Gaza ainda é ocupado pelos colonos israelenses e pelas unidades militares que cuidam de sua segurança.
Até 50 mil trabalhadores estão impedidos de se deslocar para seus empregos em Israel -uma perda diária de US$ 1 milhão.
Se as fronteiras ficarem fechadas, o resultado será o apodrecimento da produção agrícola e perdas comerciais, elevando os prejuízos para US$ 2 milhões. E 1 milhão de palestinos na Cisjordânia vão ter prejuízos semelhantes.
Arafat se mantém em silêncio, enraivecido, olhando fixamente para sua mesa. Finalmente, o silêncio é rompido por Nabil Shaath, seu principal negociador.
"Agora as conversações de paz estão paradas", diz ele. ``Justamente quando nos aproximávamos de uma grande conquista".
``Estão jogando bombas em Israel para nos destruir. O Irã está financiando isto. Também os países do Golfo e pessoas nos EUA estão enviando dinheiro à Jihad (guerra santa) e ao Hamas (Movimento de Resistência Islâmico)".

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