São Paulo, domingo, 2 de julho de 1995
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Apertem os cintos

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Aos olhos do público, há claramente dois planos Real, a julgar pela pesquisa feita pelo Datafolha e que este jornal publica hoje.
Um é excelente. É o Plano Real visto pelo que já aconteceu. Embora tenha atingido na pesquisa de junho o seu ponto mais baixo de prestígio, ainda assim é considerado bom para o país por quase 7 de cada 10 brasileiros (69% exatamente).
O outro real é assustador. É o plano visto pelo que ainda poderá acontecer.
Aí, acumulam-se sombras. Desemprego, por exemplo. São 54% os que acham que vai aumentar nos próximos meses, pessimismo superior ao de três meses atrás, quando 47% tinham tal expectativa.
Inflação, outro exemplo. É verdade que diminuiu o número de pessimistas, aqueles que acreditam em aumento da inflação. Eram 51% em março e, agora, são 45%. Ainda assim, é a maioria relativa.
Ou absoluta se se somar a esses 45% os 37% que acham que a inflação fica como está. Afinal, o próprio governo admite que o patamar atual ainda é elevado demais, muito longe dos níveis civilizados.
No quesito poder de compra, então, o cenário só faz piorar. Pela primeira vez, a porcentagem dos que acreditam que seu poder aquisitivo vai cair supera a dos que acreditam em aumento ou manutenção.
Hoje, os pessimistas são 33% (eram 25% em março), enquanto os otimistas se reduziram de 31% para 24% no mesmo período. É um dado tanto mais inquietante quando se considera que exatos 70% dos pesquisados dizem que o que ganham não é suficiente para viver.
Se já é assim agora e ainda pode piorar para um terço dos brasileiros, o cenário parece mesmo assustador.
A pesquisa combina à perfeição com o que se sente empiricamente na rua. A economia brasileira entrou nitidamente naquela área de incertezas que faz com que planos, sonhos, compras etc. sejam adiados à espera de uma maior nitidez no horizonte.
Em outras palavras, os coveiros do real ainda são poucos, mas já são muitos os que batem na madeira.

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