São Paulo, segunda-feira, 3 de julho de 1995
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Vamos entender o governo

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Reclamam da comunicação do governo -e apesar do encanto que se atribui aos poderosos do dia, desde março que eles se esbofam para explicar que o Brasil não é o México. Até hoje muita gente ainda não entendeu.
Só agora, no retardo natural que caracteriza a oposição, tive o tal estalo e compreendi tudo. Dizem que em 1930, quando Washington Luís telegrafou aos governadores comunicando a tramóia do continuísmo, o presidente João Pessoa, da Paraíba, respondeu também telegraficamente: ``Nêgo!" Ou seja, ele estava a favor da situação e tratava o articulador do Catete carinhosamente, na base do ``nêgo", ou seja, ``meu amor, você é o maior, como é que eu não pensei nisso antes!"
Entenderam o contrário. O telégrafo não tinha acentos, o pessoal do Catete leu: ``Nego!". Pensaram que a Paraíba se negava a participar da tramóia oficial. Hoje, a palavra faz parte do escudo e da bandeira do nobre Estado nordestino.
É o que está acontecendo agora. O governo vem repetindo que o Brasil não é o México e nós entendemos errado, que o Brasil não passará pela situação mexicana, pela quebradeira econômica, pela injustiça social que transfere 56% da renda nacional para a mão de 0,3% da população.
Imersos em cava depressão, os poderosos do neoliberalismo que estão no governo se lamuriam: ``O Brasil não é o México!". E nós achamos que o governo está fazendo tudo para que jamais cheguemos à mesma situação.
Agora, com a desindexação dos salários e a indexação do resto, compreendemos que em breve chegaremos lá. E como sofremos da mania de grandeza, evidente que superaremos a taxa mexicana. Teremos 90% da renda nacional na mão de 0,1% da população -marca para nenhum neoliberal botar defeito.
Pessimista, Serjão acha que precisa de 20 anos para obter essa taxa saudável que gratifica a eficiência. FHC é mais afobado, deve achar 20 anos muito tempo. Com as medidas tomadas semana passada, daqui a uns quatro anos estaremos lá.

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