São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A 'ira branca'

WILSON BALDINI JR.

Jack Johnson foi o primeiro negro campeão mundial dos pesos-pesados. E pagou caro por isso. Chegou a ser preso por estar acompanhado de uma mulher branca. Detalhe: era sua mulher.
Após seis anos com o título mundial e, aparentemente, indestrutível, Johnson não suportou as pressões dos racistas jornalistas e empresários norte-americanos da época e entregou o título para o grandalhão e desajeitado Jess Willard, em 1915, em Havana.
Implorando um golpe mais forte de Willard, Johnson praticamente se atirou ao chão, após suportar sonolentos 26 roundes.
Os norte-americanos só teriam mais duas décadas de predomínio branco na categoria.
Nos últimos 80 anos, a última massagem no ego norte-americano foi Rocky Marciano, campeão de 1952 a 56. Os períodos seguintes foram dominados pelos negros.
Apenas o italiano Francesco Damiani, o sul-africano Gerrie Coetzee e o sueco Ingemar Johansson conseguiram furar o bloqueio. Tiveram apenas seus 15 minutos de glória. Nada marcante.
Por isso, as malandragens foram cada vez maiores na tentativa de se criar uma ``esperança branca".
Em meados da década de 60 até o início dos anos 80 houve uma trégua. Muhammad Ali, Joe Frazier, George Foreman e Ken Norton não davam nenhuma brecha.
Mas, com Larry Holmes, houve o ressurgimento da força branca. Gerry Cooney foi o escolhido pelo marketing. Não adiantou. Foi massacrado por Larry Holmes, Michael Spinks e George Foreman.
Novo recesso da ``obsessão branca" aconteceu na era Tyson.
Mas agora ela volta com força total. O clima não poderia ser melhor. O vovô Foreman não tem mais forças nem ânimo para suportar as pressões.
No início deste ano foi traído pelo ``gângster" empresário Don King e teve seu título da Associação Mundial de Boxe cassado. King queria beneficiar seus pupilos Bruce Seldon e Tony Tucker.
Na semana passada, foi obrigado a abdicar do título da Federação Internacional de Boxe. Motivo apresentado pelos empresários: desentendimentos financeiros. Motivo real: a grande oportunidade de colocar dois brancos na disputa do cinturão. O sul-africano Frans Botha frente ao alemão Axel Schulz.
Mas a ``ira branca" dos norte-americanos ainda não está sanada. Os EUA continuam fora da disputa e apostando no ator/lutador Tommy Morrison. Tyson, porém, está chegando. Ainda bem.

Texto Anterior: Três jogadores desequilibram na seleção
Próximo Texto: Notas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.