São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
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Realismo atrapalha `Menino Maluquinho'

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: O Menino Maluquinho
Produção: Brasil, 1995
Direção: Helvecio Ratton
Com: Samuel Costa, Patrícia Pillar
Onde: Cinesesc, Lumière 2, Eldorado 4, Morumbi 5, Paulistano e circuito

``O Menino Maluquinho" chega hoje às telas com uma difícil missão: manter o encanto de um personagem que vendeu, em livro, mais de 3 milhões de exemplares.
Publicado pelo escritor e cartunista Ziraldo em 1980, o livro conquistou o público infantil por apresentar uma espécie de infância arquetípica, feita de traquinagens, humor e fantasia.
Ao dotar de carne e osso o personagem, o filme de Helvecio Ratton (de ``A Dança dos Bonecos") amplia e restringe o seu alcance.
Amplia por dar movimento, cor, volume e perspectiva ao universo plano e preto-e-branco criado por Ziraldo. E, principalmente, por encontrar a encarnação ideal do personagem: o talentoso, bonito e carismático Samuel Costa, 10.
Restringe, entretanto, por vários motivos. Primeiro, por ter localizado precisamente no tempo (fim dos anos 60) e no espaço (uma cidade de Minas Gerais) a história, mais ou menos universal em livro.
Com referências ao Cruzeiro de Tostão, aos Beatles, ao gibi ``Pererê" etc., trata mais da infância dos pais das crianças de hoje que propriamente do mundo destas.
Isso não é grave, claro. Em todos os detalhes revelam-se o empenho e a honestidade da produção: o elenco é competente e afinado, a direção de arte e a fotografia são de primeira qualidade.
O maior problema do filme está na timidez em assumir a fantasia como chave narrativa. Quando ousa nessa direção, Ratton consegue seus melhores resultados.
Numa cena, Maluquinho e seus amigos estão brincando no quarto. A bagunça é total: guerra de travesseiros, festival de palavrões. A mãe do anfitrião bate à porta, abre e, no mesmo instante, estão todos sentadinhos, estudando.
Consegue-se assim uma transposição perfeita da linguagem dos quadrinhos para a do cinema.
É pena que o filme todo não seja assim. Na maior parte do tempo, prevalece um certo ``realismo adulto" que atravanca um pouco a narração. Acumulam-se dramas domésticos como a separação dos pais, a doença e morte do avô etc.
É um filme simpático e honesto, mas travado. Cabe esperar que seus problemas não o impeçam de disputar com ``Gasparzinho" e ``Pocahontas" o coração dos meninos e meninas do Brasil.

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