São Paulo, sexta-feira, 7 de julho de 1995
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A fazenda dos animais

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Com a tradicional obsessão das mulas, venho insistindo em que o atual governo, no setor técnico, é um aglomerado de guarda-livros. A parte política é mais complexa, pode dar um caso de polícia, mas vamos com calma. Fiquemos na parte técnica.
Anteontem, em artigo na página 1-3 da Folha, o reitor da Universidade Federal de São Carlos, Newton Lima Neto, em artigo intitulado ``Plano Bresser: atração fatal", a propósito da publicização do serviço público (outra luminosa idéia do cidadão cujo nome até hoje abastece demandas trabalhistas), diz textualmente: ``O novo modelo definirá a concepção governamental sobre a educação superior: ela é gasto e não investimento, e como tal deve ser gerenciada pela lógica do mercado. O que importa é a contabilidade pública. Como não se consegue ampliar a receita justa de impostos e aniquilar a sonegação, uma vez que as elites econômicas poderosas não o permitem, sacrifiquem-se as despesas. É uma vergonha o país suprimir verbas sociais para educação e saúde, enquanto se convive com uma situação em que, para cada real arrecadado, outro é sonegado".
A citação é longa, mas necessária. Transcrevendo esse trecho, eu nem precisaria acrescentar mais nada. O sr. Bresser é tido como inteligente. Pelo menos, FHC deve achar isso, pois o seu tesoureiro na campanha eleitoral descolou grana com eficiência maior do que a do PC Farias -que pisou na bola e deu no que deu.
Outro dia, um velho político mineiro, desses que consideravam Tancredo Neves ``um rapaz promissor", fazia o comentário que apenas transcrevo: ``Em Minas, FHC, Serra e Bresser chegariam no máximo a vereador e a inspetor. No Rio, talvez a deputado estadual e chefe de seção".
Aproveitando o clima criado, no início da semana, pelo desabafo presidencial durante a reunião do PSDB, vou reler neste fim-de-semana ``A Fazenda dos Animais", de George Orwell. É um esforço para ficar atualizado.

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