São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Mudança salarial é erro político e terá pouco efeito na economia, diz consultor

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A Medida Provisória proposta pelo governo que prevê a desindexação de salários -deixam de ser corrigidos por lei- foi um erro político e produzirá efeitos mínimos para o Plano Real. A opinião não é de um sindicalista de oposição, mas do economista Claudio Adilson Gonzales, da consultoria MCM, do ex-ministro Maílson da Nóbrega, à qual estava ligado o presidente do Banco Central, Gustavo Loyola.
Para Gonzales, na atual fase do plano, a indexação salarial ``atrapalhava pouco". O consultor considera que não existem as condições ideais no país para a livre negociação salarial, ou seja: um inequívoco equilíbrio da economia, expectativa de inflação muito baixa e abertura consolidada. Os custos políticos que o governo já está pagando com a medida são os seguintes: 1) oferecer uma bandeira para os partidos e o sindicalismo de esquerda; 2) ameaçar dividir a base de apoio no Congresso, dada a relutância dos parlamentares em aprovar medidas que exijam sacrifícios e a fácil demagogia que a questão salarial permite; 3) abrir a possibilidade do Congresso converter a MP em política salarial pior que a atual.
Finalmente, Gonzales considera que a Justiça do Trabalho, acionada, vai dar a reposição plena da inflação passada, com ou sem a MP da desindexação.
Liberdade para aumentar a cotação do dólar - Quando se desvaloriza o dólar, todos os produtos importados ficam mais caros. O importador precisará de mais reais para comprar a mesma quantidade de dólares.
O aumento de preços dos importados e dos produtos que têm componentes importados entra no índice de inflação. Com indexação, esse índice é repassado para todos os salários.
Não havendo repasse automático, o aumento dos importados morre lá. O salário perde capacidade de compra em relação a tudo que é importado.
Maior eficiência da política de desaquecimento - O governo quer reduzir o consumo para evitar pressões inflacionárias.
Vendendo menos, as empresas têm de pagar menos salários para manter o equilíbrio entre faturamento e custo da mão-de-obra.
Na indexação, a empresa é obrigada a dar o reajuste oficial pela inflação passada, tenha ou não capacidade econômica de fazer isso. Quando não tem, a empresa refaz seu equilíbrio com demissões. Paga mais salário para menos gente, mantendo estável o custo global da mão-de-obra.
Se não é obrigada a dar o índice oficial de reajuste, a empresa pode conceder reposição inferior à inflação passada. Os trabalhadores têm uma perda real no salário, mas é mantido o nível de emprego.
Evitar a nacionalização de inflações regionais - Nesta época do ano, aumentam os preços das roupas de inverno. Isso cai no índice nacional de inflação e reajusta salários onde não se usa roupa de lã.
Evitar a generalização de fatos isolados - É o mesmo argumento. A geada provoca aumento nos preços de hortifrutigranjeiros nas capitais do sul. Isso vai para o índice de preço e acaba reajustando salários no norte tropical.

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