São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 1995
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Chirac assume o exílio de judeus

VINÍCIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

Pela primeira vez, um presidente francês reconheceu que a França também é culpada pela deportação de judeus para campos de extermínio na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial.
Em discurso realizado ontem, durante a comemoração dos 53 anos da prisão de 13 mil judeus na Paris ocupada pelos nazistas, Jacques Chirac disse que "a loucura criminosa dos ocupantes (os alemães) foi secundada pela França".
O dia 16 de julho é o dia nacional francês de recordação das perseguições anti-semitas e racistas.
Na madrugada de 16 para 17 de julho de 1942, cerca de 450 policiais franceses prenderam cerca de 13 mil judeus, entre eles 4 mil crianças.
Segundo Serge Klarsfeld, da Associação dos Filhos dos Judeus Deportados da França, o discurso de Chirac é de "antologia".
Klarsfeld lembrou que "o último presidente (François Mitterrand) se calou sobre o assunto. Para Mitterrand, a República Francesa não podia ser confundida com o governo de Vichy, nome do Estado francês sob o jugo da ocupação alemã, que colaborava com os nazistas.
Em sua fala, Chirac disse também que a França, "terra dos direitos do homem, das liberdades, terra de acolhida e de asilo, quebrou a palavra dada aos judeus franceses e os entregou, respondendo a todos os apelos nazistas".
Em reportagem publicada pelo jornal "Libération", Serge Klarsfeld revelou que os bens confiscados dos judeus franceses deportados jamais foram devolvidos aos sobreviventes ou aos familiares.
Klarsfeld revela que o dinheiro, jóias, valores em geral e até pares de óculos, minuciosamente inventariados pelos funcionários franceses (que davam recibos às vítimas), foram incorporados, depois da guerra ao Tesouro francês.
Segundo a reportagem, os poucos processos pela recuperação do dinheiro foram perdidos. A uma demanda, com recibo, de 7 mil francos, levada à frente pelo filho de um deportado morto, em 1990, o governo francês respondeu: "Lamento informar que as pesquisas que fizemos não puderam determinar o que aconteceu com os valores confiscados".
Cerca de 10 mil recibos de confisco estão guardados no Centro de Documentação Judaica Contemporânea da França.

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