São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 1995
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Gol de Túlio é motivo de vergonha nacional

ALBERTO HELENA JR.
ENVIADO ESPECIAL A RIVERA

Estou estarrecido com o cinismo nacional que se escuda no célebre gol de mão do Maradona, na Copa de 86, para justificar aquela excrescência que foi o gol de anteontem de Túlio, contra a Argentina.
Já disse aqui e repito que não sou daqueles que -nem mesmo como torcedor- se regozijam com um gol de seu time, marcado com a mão, em flagrante impedimento, aos 48min do segundo tempo, um chavão bem brasileiro, por sinal. Portanto, não apenas dispenso as celebrações da vitória sobre o histórico rival como lastimo ela ter se viabilizado por meio desse expediente.
A propósito, posso até aceitar que Alberto Tejada, o juiz peruano, que, até então, vinha tendo uma atuação muito boa, tenha sido vítima de uma ilusão: se na sua linha de mira estavam as costas de Túlio, possivelmente o juiz não tivesse distinguido com precisão a matada da bola com o braço esquerdo estendido. Já o bandeirinha, ah, esse não tem perdão. Ele viu o lance claramente e não teve coragem de assinalar a irregularidade. Assim como não podia ter deixado de ver que Simeone estava a dois metros do último brasileiro quando foi lançado pela esquerda, em situação privilegiada para matar o jogo ali, e foi barrado pela sinalização de um impedimento inexistente.
Uma vergonha, que merece expiação, nunca celebração.

Esse gol de Túlio só perde para o capítulo mais bizarro da história entre brasileiros e argentinos. Numa Copa Rocca, creio que em 39, em São Januário, jogo duríssimo, como sempre, o juiz brasileiro Tijolo, se não me dribla a memória, marcou um pênalti inexistente contra os argentinos. Estes se rebelaram e acabaram massacrados em campo pela polícia, num revide do que sofrêramos em Buenos Aires, num jogo anterior (aliás, essas batalhas eram como o enigma do ovo e da galinha). Conseguiram escapulir para o vestiário, de onde só sairiam protegidos, direto para o aeroporto (ou seria o cais do porto?).
Ora, como os argentinos não voltavam a campo e a torcida exigia a cobrança do pênalti assinalado, Tijolo, era o Tijolo, sim, pôs a bola na marca fatídica, chamou nosso meia-esquerda Perácio, e, com todo rigor do momento solene, correu para o bico da área e apitou. Perácio partiu sério para a bola e disparou um petardo fulminante. Na meta vazia.
E a galera vibrou.

No saguão do hotel, alguém me pergunta, com atroz ironia, quem foi o herói do jogo: Taffarel, Túlio ou Tejada? Respondo, sério, aqui: Edmundo. Não aquele Edmundo de dribles desconcertantes e de jogadas surpreendentes. Mas um Edmundo solidário, raçudo, capaz tanto de se apresentar no momento exato para empatar o jogo pela primeira vez quanto de se desdobrar na marcação, sobretudo depois da expulsão de César Sampaio. E de, por fim, enfiar aquele pênalti goela adentro dos argentinos.
Quem refluiu, e passa, doravante, a ficar sob observação é o garoto Sávio. Mas isso é próprio do noviciado. Bola ele tem, e demais.

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