São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 1995
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Uma Bósnia no Rio

A diferença entre prevenir e remediar parece ser ainda uma grande desconhecida para a maioria das autoridades públicas no Brasil. Certas ações costumam estar a reboque de incidentes e tragédias, e o futuro muitas vezes tem sido visto como um episódio remoto.
Combustão espontânea, corrosão dos fios pela umidade marítima, negligência no armazenamento das cargas, sabotagem. Seja qual for o motivo da explosão no arsenal do Centro de Munição da Marinha na ilha do Boqueirão, torna-se cada vez mais inaceitável que populações como a da ilha do Governador tenham de se comportar como as que se encontram imersas num conflito bélico, batendo em retirada após um estrondo cujos abalos se propagaram por um raio de 20 km.
O telespectador desinformado tomaria as imagens dos noticiários, produzidas por cinegrafistas amadores, como partes de uma retrospectiva da Guerra do Golfo ou uma cobertura dos testes nucleares do governo francês no Pacífico Sul.
Independente dos resultados do Inquérito Policial Militar que certamente deve ser produzido, e além das alegações de segurança nacional que justificam o sigilo sobre o número e a localização de outros depósitos de munição existentes nos seis Distritos Navais brasileiros, desastres como o ocorrido no Rio de Janeiro resultam de um histórico de absoluta ausência de planejamento urbano, à qual se tem aliado a negligência administrativa no passado, mas também no presente.
Resulta daí um contra-senso: a especulação imobiliária, a alocação de populações carentes, as motivações turísticas ou as supostas ``razões de Estado", apesar de estarem presumivelmente a serviço dos homens, produziram no Brasil paisagens urbanas inabitáveis.
São pois urgentes critérios de zoneamento para a formação dos núcleos urbanos e a demarcação de áreas impróprias à presença humana, e que, afinal, também se faça respeitar a legislação e as políticas ambientais que já existem.

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