São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 1995
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Atenção, contribuinte

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Desenrola-se nos bastidores de Brasília uma negociação curiosa. De um lado está o Banco do Brasil. De outro, plantadores de soja. No centro, indefeso, o contribuinte.
O caso começa no instante em que o Banco do Brasil decide emprestar dinheiro para o plantio de soja. Um bom negócio para os agricultores. No vencimento do papagaio, o pagamento seria feito em dinheiro ou em soja.
Se achasse comprador para a soja, o agricultor pagaria em dinheiro. Se o produto encalhasse, entregaria parte da produção ao banco. Pois bem, chegou o instante do acerto de contas.
O Banco do Brasil queria dinheiro. Mas um grupo de fazendeiros, especialmente do Mato Grosso e de Goiás, alegou não estar em condições de enfiar a mão no bolso.
O banco pediu, então, a soja. Sob a alegação de que deu praga na lavoura, os sojicultores querem pagar sua dívida com milho. Como o único idiota de nossa história é o contribuinte, é preciso buscar uma explicação. É verdade que houve alguma perda de safra. Mas a melhor justificativa está no mercado.
A soja é hoje um dos produtos agrícolas mais valorizados -entre R$ 8,20 e R$ 11,00 a saca. A cotação do milho, ao contrário, está rente ao chão -de R$ 4,80 a R$ 6,60.
Pressionado pelo governo, o Banco do Brasil vai engolir o milho. Concederá novos empréstimos de cerca de R$ 40 milhões. Com esse dinheiro, os agricultores vão pagar suas dívidas anteriores. Em troca, o banco receberá cerca de 400 mil toneladas de milho como garantia de pagamento.
Passados 120 dias, o milho será incorporado aos estoques oficiais do governo. O dinheiro repassado aos agricultores sai dos cofres do Tesouro Nacional. E se há algo que o governo não precisa no momento é de milho.
Dos 20 milhões de toneladas de mantimentos que o Ministério da Agricultura guarda em seus armazéns, 10 milhões são de milho. Não demora e as espigas estarão tomando o rumo da lata de lixo.
O episódio aconselha o brasileiro a prestar muita atenção à movimentação de caminhões e tratores que ocupam a Esplanada dos Ministérios.

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