São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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Miami, Brasil

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Para uma América Latina que se integra mais e mais aos Estados Unidos da América, não há outra capital.
Miami, sob ameaça de um furacão, era mostrada ontem na televisão brasileira com maior atenção e familiaridade do que, por exemplo, as enchentes em Porto Alegre.
Lá estavam a Globo, o SBT, Bandeirantes, Record, Rede Brasil, até a Jovem Pan, com manchetes como:
- Miami em alerta!
- Tensão em Miami!
- Milhares fogem!
O engraçado e talvez o mais revelador foi o Aqui Agora, que anunciou:
- Aqui Agora em Miami!
Na cobertura, suspense:
- Estamos só nós. É uma área muito perigosa.
- O furacão está perto.
Um furacão, no Brasil.

Pane
A Embratel faz campanha, contrata os mais caros, mas a publicidade não demora a bater na realidade. Na Cultura, no meio da programação:
- E atenção! Uma pane no sistema telefônico da Embratel deixa o Estado de São Paulo isolado. Ligações ao exterior e outros Estados não estão sendo completadas. Há dificuldades em conseguir ligação até para o interior. Não há previsão para a normalização do serviço.
E ainda tem gente, como Luiza Erundina, no Roda Viva, que defende o monopólio do setor como um benefício para os consumidores.

Segregação
Erundina, no Roda Viva, mostrou que quase dois anos de silêncio ainda não foi punição o bastante, para os petistas. A ex-prefeita que quer ser prefeita segue isolada, no PT.
Pergunta e resposta:
- Na campanha ao Senado, a cúpula partidária deixou a sua candidatura a pé. A senhora não teme que o partido não a queira mais, como um quadro? Não seria inútil buscar de novo uma candidatura pelo PT?
- É até a oportunidade do partido se expressar. Se é isso o que o partido quer, ele assuma. Eu sei que a minha situação no PT não é tranquila.
A segregação de Erundina, a mulher que alcançou o maior poder na história da República, e antes dela, de Zélia Cardoso de Mello, é um fato dos mais emblemáticos, na política do Brasil contemporâneo.

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