São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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Controle da informação

LUÍS NASSIF

Alguns fundos brasileiros foram incluídos nas listas dos mais rentáveis do mundo, de acordo com a revista americana Micropal. Parte desses fundos ganhou aplicando em ações, função que exige competência e boa dose de informações sobre decisões de estatais. Parte, casando mercado de câmbio e de taxas.
Nesse segundo grupo, ganhou mais quem acertou mais vezes as tendências do câmbio e dos juros.
No ano passado, depois de terem ganho muito dinheiro com a política cambial, a maioria absoluta das instituições não seguiu adiante, por não ter certeza se a política seria mantida ou não.
Para algumas instituições de pequeno porte terem seguido em frente e ganharem o que ganharam, de duas uma. Ou eram dirigidas por loucos desvairados, que optaram por correr o risco máximo -e ganharam todas, da mesma maneira que o deputado João Alves com suas loterias- ou fizeram suas aplicações tendo plena certeza sobre cada passo das taxas de juros e do câmbio.
Dependendo da alavancagem da instituição (isto é, da relação entre capital próprio e dinheiro de terceiros investido), qualquer erro de 1% nas contas consumiria imediatamente todo seu capital.
Se se quiser efetivamente criar uma economia moderna no país, há a necessidade de um sistema rigoroso de apuração e punição à ``inside information" -isto é, ao uso financeiro de informações privilegiadas.

Café
O ``capo" colombiano, Jorge Cárdenas, jogou no mercado futuro de café, confiando na elevação sem fim do produto. O preço caiu e Cárdenas entrou em córner, junto com vários investidores brasileiros que o acompanharam.
Para salvá-los, países produtores se reuniram e resolveram reinstituir o sistema de cotas. Os investidores internacionais leram a notícia e concluíram: cota só existe quando há excesso de produção. E derrubaram mais ainda as cotações, apesar de haver escassez do produto.
Nesta semana, a Confederação Nacional do Café decidiu instituir as cotas internamente. Toda exportação tem que se submeter a cotas e pagar um bônus para os burocratas do setor.
Aviso: ninguém, nem o governo, dispõe de instrumentos legais e poder de retaliação para obrigar quem quer que seja a se submeter a esse atraso.

CVM
O contribuinte paulista deve bastante ao ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários, Thomás Tosta de Sá. No final do ano passado, coube a Tosta de Sá tourear, sozinho, tentativa do governo paulista de vender US$ 300 milhões em ações da Eletropaulo. Como a emissão dependia de autorização do órgão, Tosta de Sá postergou as providências burocráticas, impedindo a concretização da operação.

Econômico
Com certeza, a repulsa a qualquer forma de utilização do dinheiro público para aventuras privadas passou a frequentar de maneira irreversível a cultura social do brasileiro. A tentativa de utilização de moeda podre para a venda do Econômico provocou reações tão ostensivas que fontes do Banco Central já se consideram suficientemente fortalecidas para resistir às arremetidas políticas em favor da tese.

Crise do campo
O documento preparado pelo Sindicato Rural de Pirassununga acerca da crise agrária mostra a enorme evolução ocorrida nas lideranças rurais -em contraste com os dinossauros que ainda frequentam a área.
O documento reconhece a gravidade da crise. Mas sustenta a impossibilidade de qualquer solução que não leve em conta os interesses gerais e a inserção da agricultura no país.
Repudia os movimentos de confronto e combate energicamente os aproveitadores políticos, que tentam falar em nome da agricultura.
É um refrigério de bom senso, em um país marcado pela síndrome do Fla-Flu.

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