São Paulo, quarta-feira, 2 de agosto de 1995
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Harnoncourt esvazia "As Bodas de Fígaro" com seu formalismo

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DO ENVIADO A SALZBURGO

Harnoncourt aborda ``As Bodas de Fígaro", do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), como um formalista que estivesse flertando ultimamente com o sentido da paixão.
Para entender essa leitura é preciso conhecer a história do maestro. Ele foi um dos nomes mais importantes do movimento de renovação interpretativa da música pré-romântica. Criou em 1953 o grupo Concentus Musicus de Viena, pioneiro no uso dos instrumentos de época e da musicologia.
Até 1990, amargava um papel de outsider na música erudita. O domínio da mentalidde romântica e gigantista dos regentes e orquestras impedia que suas idéias saíssem do espaço restrito dado então à música barroca.
Passou então a atacar no terreno inimigo. Gravou a integral das sinfonias de Beethoven com a Orquestra de Câmara da Europa. A claridade das estruturas consagrou sua versão. Vieram os prêmios, as medalhas, os convites.
Aos poucos, foi derivando do Barroco para o Romantismo. Gravou a terceira sinfonia de Bruckner, duas óperas de Johann Strauss, duas sinfonias de Schumann. Suas virtudes de alvejante de timbres foram acatadas. Debutou em 1992 no Festival de Salzburgo com a ``Missa Solemnis", de Beethoven. No ano seguinte, exibiu no evento ``L'Incoronzione di Poppea", de Monteverdi.
Suas ``Bodas", em cartaz em Salzburgo até dia 7, pertencem à arte oficial. A ousadia última do experimentalista está em não ser ousado.
(LAG)

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