São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
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Prisão de traficantes derruba preço da coca

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

Erramos: 12/08/95
A prisão dos chefes do cartel de Cali, principal fornecedor de cocaína aos grandes mercados consumidores, provocou uma crise na cadeia produtiva da droga.
O jornal peruano ``El Comércio" informou ontem que o preço da matéria prima básica da cocaína (a folha de coca) caiu de US$ 20 para US$ 5 a arroba (12,5 quilos).
A Folha apurou que idêntico cenário ocorre em outros países produtores da folha de coca, como a Colômbia e a Bolívia.
Motivo: a implacável lei da oferta e da procura. A oferta de folhas de coca (não confundir com a cocaína, o produto final) se mantém, mas o cartel, semidesarticulado, não consegue comprar tudo.
A crise produziu uma situação paradoxal: o governo peruano, que compra parte da produção de folhas de coca para produtos medicinais, paga hoje mais do que os narcotraficantes.
A Enaco (Empresa Nacional da Coca) está pagando aos 32.065 produtores legalizados cerca de US$ 14,5 por arroba, quase o triplo do que a máfia.
O problema é que o total de plantadores passa de 250 mil e eles produziram, no primeiro trimestre do ano, quase 50 mil toneladas métricas da folha que não puderam ser despachadas para a Colômbia pela queda do cartel.
Os três irmãos Rodríguez Orejuela, chefes da máfia de Cali, foram sucessivamente presos, até que caiu, na semana passada o último deles, Miguel.
O cartel compra as folhas de produtores peruanos, bolivanos e colombianos, faz o processamento na Colômbia e exporta aos grandes mercados (EUA e Europa).
O paradoxal é que esse golpe ao cartel não tenha beneficiado o responsável principal, o presidente colombiano Ernesto Samper Pizano, 45, há um ano exato no poder e agora acusado justamente de ter recebido financiamento do cartel de Cali para a sua campanha eleitoral no ano passado.
O paradoxo é a principal arma de defesa de Samper. Seus seguidores dizem que as acusações não passam de vingança do cartel pelo desmantelamento da organização.
Mas os que defendem a renúncia ou o impeachment do presidente esgrimem a seguinte pergunta: ``Ele prendeu os chefões porque quis ou porque os Estados Unidos não lhe deixaram alternativa?".
A pergunta é do jornalista Fábio Castillo, autor de dois livros fundamentais para entender o narcotráfico e pelos quais se viu obrigado a passar oito anos no exílio para escapar das ameaças dos cartéis.
A razão da pergunta: a legislação norte-americana exige que Washington certifique que um país está de fato enfrentando o narcotráfico, como condição para, por exemplo, receber ajuda financeira.
A busca desse certificado é que, na opinião de Castillo, teria levado o presidente a apertar o cerco.

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