São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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As lições que Zagallo deve tirar da Ásia

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Brasil deu um pulinho no outro lado do mundo e já está voltando com mais duas vitórias e US$ 2 milhões na bagagem. São poucas as seleções capazes de tal feito, embora japoneses e sul-coreanos -nossos adversários- estejam ainda nos primeiros degraus da escada que leva ao topo da hierarquia do futebol mundial.
Mas não é isso que importa muito, no caso. O que interessa é saber quais as lições tiradas dessa excursão, misto de caça-milhões, política de boa vizinhança com os dois mais fortes candidatos a abrigar a primeira Copa do Mundo do próximo milênio, e sei lá quantos negócios particulares medrados à sombra.
Dentro das quatro linhas, foram quatro os fatos novos. O primeiro, a despedida de Jorginho da seleção, depois de gloriosa carreira. No jogo contra a Coréia, dois dos mais jovens candidatos ao posto estiveram em ação, e deixaram claro que o terceiro -Cafu- ganha disparado. Afinal, Bruno Carvalho, que jogou pela direita, é um menino esforçado, dono de técnica limitada, mas ainda muito inibido diante das múltiplas tarefas que cabem a quem atuar por ali. Só no segundo tempo arriscou alguns avanços, todos inócuos.
Já Rodrigo, que atuou pela esquerda, exatamente por isso saiu em grande desvantagem nessa disputa particular. Afinal, é destro, e, como tal, limitou-se a tentar fechar o seu setor, sem muito êxito, diga-se. Nem contra o Japão, nem contra a Coréia do Sul, tentou sequer uma estocada até a linha de fundo.
Ao contrário de Zé Roberto, o garoto da Lusa, que entrou no seu lugar, sábado, diante da Coréia, e, em poucos minutos, transformou-se na maior revelação do giro pela Ásia. Solto como um veterano, logo na estréia marcou, atacou, driblou, cruzou, fez o diabo, confirmando a previsão que me fazia outra noite o dr. Sócrates, segundo a qual será um craque consagrado em muito pouco tempo.
A outra lição: Leonardo, na função de Juninho, nem pensar. Não é um atacante nato, carece de mobilidade, balanço e versatilidade (só tem o pé esquerdo) para ocupar essa posição.
E aqui emendo a terceira: Giovanni, o homem certo, foi deslocado para o comando do ataque. É bem verdade que Zagallo deu-lhe a liberdade de voltar para participar da armação, numa jogada tática interessante, caso os homens de trás fossem mais agressivos e habilidosos do que o são Dunga, Zinho e cia.
Por fim, a última lição: Edmundo tem muito que aprender ainda se quiser ser titular absoluto desse time. Depois de uma excelente exibição diante da Argentina, na Copa América, refluiu para seu mundo de sombras, um jogo de negaças e rodopios que invariavelmente termina com a bola nos pés do adversário.
Resumindo: Zé Roberto tem tudo para ser o reserva de Roberto Carlos e titular olímpico, na lateral esquerda; na direita, Cafu é absoluto, merecendo o destro Rodrigo uma chance; e um dia ainda, Zagallo haverá de escalar Giovanni na meia, quem sabe passando Juninho para as funções de Edmundo e metendo no comando um goleador típico. Isso, se Zagallo estiver buscando a utopia da perfeição.

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