São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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O velho reage

JUCA KFOURI

A última reunião do conselho do Indesp foi um retrato perfeito da situação do esporte brasileiro.
De um lado, os que querem mudá-lo. Do outro, quem prega mudanças na aparência, mas que quer manter a essência. Alguém que, diga-se, é altamente qualificado e um homem a quem o esporte brasileiro, o vôlei mais especificamente, deve muito.
O parecer do conselheiro Carlos Miguel Aidar sobre a legalidade das eleições e do estatuto da CBF foi demolidor. Está tudo fora da lei, seja porque o estatuto não respeita a autonomia das entidades como a lei determina, seja porque o colégio eleitoral deixou de fora 86 eleitores, os clubes que participam da segunda e terceira divisões do futebol nacional.
Foi aí que se revelou a outra face que convive no mesmo conselho, uma contradição que tem a vantagem de permitir a discussão e que aflorem as divergências.
Carlos Arthur Nuzman, o vitorioso ex-presidente da Confederação Brasileira de Vôlei e atual presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, foi à luta. Polida e veemente. Ele acha que o conselho não tem autoridade para se manifestar sobre a vida interna das entidades e chegou mesmo a pedir que os conselheiros fizessem uma manifestação nesse sentido. Nuzman, enfim, defende que as confederações estejam acima da lei.
Nuzman é um dirigente competente e leal. A competência ele já provou, praticamente inventando o vôlei no país e o tornando um esporte altamente rentável -inclusive para ele, que, aliás, defende a profissionalização dos dirigentes esportivos, mas ainda não teve a coragem de se apresentar como tal.
E é extremamente leal a João Havelange, o cartola que tem como ídolo. Daí, por tabela, ter de defender as trapalhadas do genro Ricardo Teixeira.
Nuzman, enfim, postula um monstro, que as entidades esportivas não tenham satisfação a dar a ninguém, a não ser aos órgãos dirigentes internacionais. Em resumo, ele representa os que querem uma zona franca no esporte, postura que está mais para zona que para franca.
Nuzman deve ser derrotado na questão entre seus pares, embora tenha conseguido, pelo menos, adiar a decisão do conselho até a próxima reunião, ganhando um tempo precioso para que os especialistas em legislação esportiva no Brasil, em regra advogados que habitam o círculo de amizades do eixo Havelange/Teixeira, engrossem o lobby -veja que ironia- anarco-conservador, dessas coisas que só o coronelato brasileiro é capaz de produzir.
Essa briga vai longe.

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