São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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Livre para não fumar

Alguns tabagistas e mesmo não-fumantes que se declaram ``defensores da liberdade de expressão" partilham o sentimento de que existe exorbitância nas medidas oficiais de restrição à venda e ao consumo de cigarros, como as decretadas recentemente nos EUA.
Esse sentimento parece estar estreitamente ligado a uma curiosa tendência contemporânea de incorporar a insalubridade ao próprio comportamento humano.
Apesar de seus comprovados efeitos deletérios, o hábito de fumar, dizem seus defensores, é uma escolha individual, não merecendo pois qualquer regulamentação, venha de onde quer que venha.
A falácia desse raciocínio está primeiramente em fazer de conta que o fumante está sozinho no mundo. Na verdade, sua ``livre expressão" em determinadas situações afeta diretamente a liberdade dos que, mais saudavelmente, optaram por não engolir fumaça.
Além disso, essa ``liberdade" parece não ser tão ``livre" assim. É antes condicionada, em grande parte, por um eficiente aparato publicitário que estimula o vício.
Iniciativas que limitam os anúncios de cigarros e as oportunidades de consumi-lo levam em consideração, antes de tudo, a onipresença de estratégias de sedução ao hábito de fumar nas sociedades contemporâneas. Combatem, pois, uma espécie de tirania da publicidade sobre a escolha individual.
Assim, que o espaço para o tabagismo -e os seus consequentes malefícios- seja tão restrito quanto possível, respeitados os direitos individuais daqueles que desejam se matar, e apenas a si, aos poucos.

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