São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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Vatapá à paulista

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Pouco a pouco, o governo que evitou fritar ministros (Dorothea, Jatene, Vieira e outros) está fritando o senador ACM -e nem o próprio percebe que está sendo fritado. Ele exerce um cargo mais importante do que o de qualquer ministro. Seguindo a tradição baiana lançada por Gregório de Matos, ACM é o nosso atual ``Boca do Inferno". Os políticos o temem (ou temiam) e a mídia dele se aproveita para alimentar crises e obter manchetes.
Sua desmoralização começou com Itamar, que convocou a imprensa para participar de uma de suas denúncias que abalariam o sistema solar. Nada aconteceu, pelo menos do meu ponto de vista. Toda vez que meu relógio marca 5h25 eu dou de cara com o sol nascendo em cima da Lagoa.
A segunda lista ameaçada por ACM nem precisou de imprensa para dar em nada. Ficou por isso mesmo. Ou o governo está entupido de corrupção até o pescoço ou os petardos de ACM que são anunciados como bombas de hidrogênio se revelam pitorescos busca-pés de festas de São João.
Oficialmente ele continua como um dos grandes do cenário político, sozinho vale mais do que uma bancada, do que um partido, do que um plebiscito. Na prática, não conseguiu sequer uma solução menos cruenta para a situação do Banco Econômico, que acaba de sofrer intervenção.
Semana passada o Boca de Inferno contemporâneo gritou contra São Paulo, cujos políticos estão se preparando para ficar no poder mais 20 anos. ACM não teria interesse pessoal no caso se não tivesse criado dinastia. Tem um delfim de si mesmo, o que é pouco, mas acredita que pelo menos nos próximos 20 anos o rapaz terá sua vez. Em 1998 ou logo depois.
Ele já percebeu que São Paulo nem está aí. Tem mais candidato potencial ao trono do que torcedor do Corinthians. Botar a boca no trombone -ainda que uma boca infernal- não está dando resultado. É urgente que ele mude de arsenal e pontaria. Do contrário, vai continuar sendo um vatapá servido à paulista -com torresmo e ovo frito em cima.

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