São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 1995
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Fugitivos de repatriação no Zaire já são 130 mil

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Chegou ontem a 130 mil o número de refugiados de etnia hutu vindos de Ruanda e Burundi que fugiram de campos no Zaire para escapar de repatriação forçada. Desde sábado, cerca de 15 mil refugiados foram expulsos.
O Alto Comissariado da ONU para Refugiados disse que 133 mil deles entraram em florestas e parques, sem comida e sem água.
Pelos números da ONU, 100 mil fugiram da região de Uvira, 20 mil de Goma e 13 mil de Bukavu, as três cidades no leste do país.
O Zaire diz que não pode tomar conta dos refugiados e que vai continuar com as expulsões até a ONU se responsabilizar pela volta deles a seus países de origem.
``Achamos que há condições em Ruanda para que os refugiados voltem", disse o vice-chefe do Exército, Baramoto Kpami.
Ele negou que os soldados do país tivessem estuprado, espancado e roubado os refugiados.
Existem no Zaire 1,08 milhão de refugiados hutus de Ruanda e 70 mil do Burundi.
Em abril de 1994, um atentado matou o presidente ruandês de etnia hutu Juvenal Habyarimana.
Os hutus acusaram os tutsis pelo ataque e mataram mais de 1 milhão de tutsis, acirrando guerra civil iniciada em 1990.
Em julho do ano passado, a minoria tutsi tomou o poder, acabando com a guerra. Os hutus fugiram para o Zaire e outros países vizinhos por medo de retaliação pelos massacres.
Os hutus também fugiram do Burundi por causa de conflito étnico com os tutsis da região.
Um comunicado da ONU divulgado ontem dizia que as expulsões tinham diminuído de ritmo.
O Alto Comissariado da ONU para Refugiados disse que está negociando com o governo do Zaire uma solução para crise.
Segundo o grupo, líderes dos refugiados disseram que estão dispostos a voltar em caminhões da ONU se as tropas do Zaire saírem do local.
O Conselho de Segurança da ONU, a França, a Bélgica e os EUA fizeram apelo pelo fim das expulsões. O Zaire disse não se sentir pressionado a suspendê-las.
Quatro generais do Zaire foram a Goma para colocar ordem na operação, depois das acusações de estupro e espancamento.
A chefe do Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Sadako Ogata, anunciou que vai viajar para o Zaire para evitar uma catástrofe humanitária. O objetivo de sua viagem é convencer o governo do Zaire a parar com as expulsões.
O bispo sul-africano Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz em 1984, disse que teme que as repatriações tornem a situação ``infernal", se a comunidade internacional não fornecer ajuda maciça.

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