São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 1995
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Escárnio

Escárnio
Beira o

Beira o escárnio a tentativa do ex-presidente do Banco Econômico Angelo Calmon de Sá de justificar o fato de ele próprio e outros diretores terem feito saques no dia em que o BC interveio na instituição.
Para Calmon, diretores são clientes ``diferentes" porque têm de ``se proteger" e ``dar comida às suas famílias". É claro que todos os clientes ``normais" também teriam de proteger-se e alimentar suas famílias. Mas estes não tiveram acesso à informação privilegiada que Calmon e seus auxiliares tiveram.
Ainda que se considere o argumento de Calmon de que, devido à intervenção, todos os diretores e sócios que trabalharam no Econômico nos últimos 12 meses ficam com seus bens indisponíveis, nada justifica a diferença de tratamento dada aos clientes ``diferentes" e aos ``normais", que muito provavelmente se encontram em situação financeira bem mais precária que a dos diretores de seu banco. Isso sem falar nas suspeitas de remessas irregulares para o exterior e no fato de o filho do banqueiro ter feito um saque de R$ 250 mil no dia da intervenção, alegando compromissos previamente assumidos. E os depositantes ``normais", será que não estariam na mesma situação?
Deixar de investigar a fundo os saques feitos por diretores e apaniguados às vésperas da intervenção equivaleria a acrescentar, à já absurda mas provável socialização de prejuízos privados, uma grotesca premiação para a incompetência daqueles que conseguiram transformar uma centenária instituição financeira num banco falido com um rombo de R$ 3 bilhões.

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