São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
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'APOLLO 13'

BIA ABRAMO
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 25/08/95
O ator Tom Hanks foi erroneamente identificado em foto publicada à pág. 5-10 ( Ilustrada) de hoje. Ele está à direita da foto.
Não fosse por outros méritos, "Apolo-13" mereceria ser visto no mínimo para resgatar um período muito particular do imaginário da humanidade.
Enquanto aqui na Terra o pessoal estava tomando drogas, fazendo amor livre, ouvindo música pop e protestando contra a Guerra do Vietnã, o espaço sideral estava sendo explorado.
Hoje, há satélites, naves e telescópios vagando pelo universo, mas falta o elemento fundamental para provocar aquela emoção peculiar: gente dentro das engenhocas. Eram os astronautas, profissão almejada por dez entre dez meninos e meninas, que davam graça ao negócio.
A fantasia de toda criança que viu o primeiro homem na Lua (Neil Armstrong na missão Apolo-11, nomes e números que se sabiam de cor e salteado) era a de, logo, logo, estar no mesmo lugar. E a Lua era só o começo.
O diretor Ron Howard evoca esse sabor de aventura inaudita, de início de uma nova era com perícia em "Apolo-13". Se à primeira vista pode-se pensar no filme como um exercício banal de ufanismo às avessas (como tenta sugerir o horrendo subtítulo em português, "do desastre ao triunfo"), de seus detalhes emerge um desencanto pelo fim dessa experiência extraordinária.
E nada melhor do que um fracasso, como de fato foi a viagem da Apolo-13, para expressar essa nostalgia particular.
Os astronautas Jim Lovell, Jack Swigert e Fred Haise (interpretados por Tom Hanks, Kevin Bacon e Bill Paxton) estiveram quase lá. Quase. O malogro da missão prenunciou o fim -ou um intervalo longo demais para suportar, o que dá no mesmo- da odisséia espacial.
A decepção dos três funciona como uma metáfora da desilusão que tomou conta de todos os que sonhavam com a conquista, não apenas da Lua, mas de todo o Sistema Solar e das galáxias mais distantes. Em outras palavras, ninguém mais ia viver peripécias como as da tripulação da nave Enterprise em "Jornada nas Estrelas".
"Apolo-13" nem de longe tem a sofisticação de roteiro e linguagem de filmes como "Os Eleitos" (Philip Kaufman, 1983) ou "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (Stanley Kubrick, 1968). Mas remete a outro clássico sobre a era espacial: os álbuns de história em quadrinhos "Rumo à Lua" e "Explorando a Lua", do belga Hergé.
Os astronautas de "Apolo-13" têm o mesmo charme ingênuo de seres bidimensionais. Claro, o filme se leva a sério como convém a um sucesso de bilheteria e candidato ao Oscar e, portanto, carece do humor de Tintim, Capitão Haddock, Dupont & Dupond e Professor Girassol.
Agora, "Apolo-13" funciona como thriller. Desde que Hanks pronuncia a frase "Houston", temos um problema, começa um pesadelo de tirar o fôlego.
Na nave, as condições de sobrevivência dos astronautas vão se deteriorando a cada segundo. Na sala de controle da missão, chefiada por Gene Kranz (Ed Harris), a preocupação cresce a cada segundo. Junte-se a isso mulheres grávidas, companheiras desesperadas, filhos chorosos e se tem a receita certa para pregar o espectador na poltrona até o fim. Que, como todos sabem, é capaz de levar esse mesmo espectador ansioso às lágrimas.
Não há dúvida que Holywood, querendo, sabe construir à perfeição uma atmosfera de tensão e histeria. Que sabe mostrar como, no fundo, os homens são mais importantes que as máquinas e que a solidariedade move montanhas.
Nesse sentido, é exemplar o papel do piloto Ken Mattingly (Gary Sinise), inicialmente designado para a missão e que acaba por não participar por causa de um sarampo. A tarefa de Mattingly, o homem que mais conhece a nave, consiste em "enganar" a máquina, de forma que ela gaste o mínimo de energia e consiga trazer os astronautas para casa. Fracassado entre os fracassados, acaba por se tornar o salvador de todos eles.

Filme: Apolo-13 - Do Desastre ao Triunfo
Direção: Ron Howard
Produção: EUA, 1994
Elenco: Tom Hanks, Kevin Bacon, Bill Paxton, Gary Sinise e Ed Harris
Estréia: hoje
Onde: nos cines Belas Artes (sala Villa-Lobos), Bristol, Metro 1, Center Iguatemi 3 e circuito

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