São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Filha de D'Artagnan' dá aula de aventura

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Filme: A Filha de D'Artagnan
Produção: França, 1994, 125 min.
Direção: Bertrand Tavernier
Elenco: Sophie Marceau, Philippe Noiret, Claude Rich
Onde: a partir de hoje no cine Vitrine

"A Filha de D'Artagnan" faz jus a seu nome: é um filme herdado. Seria realizado pelo italiano Riccardo Freda, veterano de muitos Macistes, com enorme prestígio na Europa.
Pouco antes da filmagem, Freda (nascido em 1909) adoeceu e ainda brigou com a atriz Sophie Marceau. Com isso, Bertrand Tavernier, que era produtor, assumiu a direção.
O desafio não era pequeno: tratava-se de retomar e ampliar a saga de "Os Três Mosqueteiros", de Alexandre Dumas, -um dos mais célebres romances de aventura já escritos. E também de retomar a tradição moribunda do filme de capa-e-espada, com um filme francês de ação (coisa rara).
O reencontro é feliz em vários aspectos. Tavernier lança o espectador num torvelinho de intrigas alucinante. Existe Eloise (Marceau), a filha de D'Artagnan (Philippe Noiret), criada em um convento onde, logo na abertura, acontece uma carnificina. Ela escapa e parte em busca do pai.
O pai caiu em desgraça. Vive pobremente, dando aulas de esgrima. Mas se envolve a fundo na trama que vem a seguir e, inclusive, convocar os mosqueteiros remanescentes a juntar-se a ele.
Passemos pelos detalhes rocambolescos da história. Em síntese, ela trata de uma conspiração armada em 1654 por nobres contra Luís 14, que está para assumir o trono.
Tavernier introduz aí alguns elementos muito interessantes. Há desde o olhar sobre o envelhecimento (os mosqueteiros estão caindo aos pedaços) até o conflito de gerações, com Eloise desafiando um D'Artagnan trivialmente preocupado com a filha, como qualquer pai.
A isso, somem-se a visão da corte francesa num momento crítico (Luís 14 está longe de consolidar seu poder), um humor bem colocado, as alusões à política contemporânea (nada instrusivas).
Junte-se a tudo a alegria da aventura e temos, reencontrado e rejuvenescido, o espírito das matinês: aventura com inteligência e qualidade da produção.
Dá para esquecer as hesitações do início, em que Tavernier por vezes tropeça na narração e na direção dos atores, e certas inconsistências da trama. Filma-se com alegria e há um uso adequadíssimo da câmera: seguro, nada exibicionista, funcional. "A Filha de D'Artagnan" é uma lição de agilidade dada ao habitualmente sorumbático cinema francês. E, por que não, a lição de um velho fã ao mecânico cinema de aventuras que se faz hoje em Hollywood.

Texto Anterior: 'APOLLO 13'
Próximo Texto: Hugh Grant é diretor de teatro afetado no vago 'Jogos de Ilusão'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.