São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
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Perdoem a falha (dele)

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - A imagem do governo saiu arranhada do episódio Banco Econômico? A culpa foi de uma ``falha de comunicação", pelo menos na versão oficial.
Houve uma reação negativa inicial dos prefeitos contra a reforma tributária? A culpa é de novo atribuída à tal de comunicação.
Não é um problema novo. As duas únicas pessoas que deixaram o governo até agora foram, ainda que de maneiras diferentes, vitimadas pela comunicação infeliz do governo com o público.
Um foi Pérsio Arida, que pagou o pato pela desastrada introdução das bandas cambiais em março, mal comunicadas. O outro foi justamente o chefe da Comunicação, Roberto Muylaert.
Parece razoável supor que o problema não está nos comunicadores, mas no chefe. Basta, aliás, ver o desempenho presidencial nas entrevistas coletivas já concedidas. Na mais recente, segunda-feira, alguns jornalistas foram flagrados cochilando ou quase isso enquanto Fernando Henrique Cardoso explicava a reforma tributária, antes de abrir para perguntas.
Não sei como eram as aulas de sociologia do professor FHC. Mas o senador FHC sempre se deu muito bem nesse negócio da comunicação. Já o presidente parece ter perdido o jeito da coisa. Até quando tenta ser engraçado escorrega feio.
Segunda-feira, por exemplo, deu graças a Deus por não ter um tostão no Econômico, o que pareceu, a muitos, gozação em cima dos que tinham seus únicos centavos no banco sob intervenção.
Não é difícil explicar as falhas. FHC, além de presidente, é o chefe da equipe econômica (até porque os dois ministros principais têm lá suas divergências, o que exige arbitragem), é o supervisor da política externa (pelo gosto que tem pela área), é o coordenador político e é, finalmente, o comunicador-chefe.
Mesmo que fosse o gênio da raça que alguns de seus aliados acham que ele é, não poderia mesmo funcionar. Em uma ou mais de uma dessas funções vai haver falhas graves. O pior é que pode ser na única função não-delegável, a de presidente.

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