São Paulo, sábado, 26 de agosto de 1995
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Igreja pode ir à Justiça para que Estado ensine religião

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

A implantação do ensino religioso nas escolas públicas de São Paulo gerou um conflito entre setores da Igreja Católica e o governo do Estado.
O bispo-coadjutor (auxiliar) de Jundiaí, d. Amaury Castanho, criticou a revogação, pela Secretaria de Educação, de resolução do governo anterior que previa a implementação de ensino religioso de inspiração católica e evangélica. D. Amaury, que integra a comissão de bispos encarregada de discutir o problema com o governo estadual, concentrou suas críticas na secretária de Educação, Rose Neubauer.
Segundo ele, Neubauer está procurando descaracterizar o dispositivo constitucional que obriga a implantação de ensino religioso. Pela Constituição, a matrícula nas aulas não seria obrigatória.
``Estamos perdendo tempo. Não tem sido possível tratar com esta senhora. Nós entendemos mais de religião do que ela", afirmou.
D. Amaury disse que bispos de São Paulo já pediram audiência com o governador Mário Covas (PSDB) para discutir o assunto.
Segundo ele, não está descartada a possibilidade de recorrer à Justiça para garantir o cumprimento da norma constitucional.
A primeira, segundo ele, está relacionada com o tipo de aula a ser ministrada. D. Amaury disse que a proposta apresentada em abril por Neubauer prevê um programa comum para as aulas, que teriam informações sobre diversas religiões.
Para ele, essa proposta não atenderia aos objetivos ``evangelizadores" da Igreja. ``Seriam mais aulas de história das religiões."
Outra divergência é em relação à contratação de mão-de-obra. Pela proposta dos bispos, caberia ao governo contratar os professores para lecionar nas 6.700 escolas urbanas da rede estadual. Segundo ele, Neubauer disse que o governo não teria como se responsabilizar por esse custo.
Outro ponto de conflito é em relação ao horário das aulas. D. Amaury diz que Neubauer quer que as aulas ocorram antes ou depois do período de estudos, o que não é aceito pela Igreja.
Responsável na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) pelo ensino religioso no país, o bispo Irineu Danelon disse à Folha que São Paulo é o único Estado que ainda não definiu uma legislação sobre o assunto.
Diferentemente de d. Amaury, d. Irineu afirmou que as aulas não deveriam ter um caráter evangelizador ou de catequese.
As aulas, segundo ele, devem abordar questões como ``vida, dignidade, justiça e formação para o amor". Afirmou, porém, que haveria uma divulgação dos ``valores cristãos da cultura brasileira".

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