São Paulo, sábado, 26 de agosto de 1995
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Judeus são contra religião nas escolas

Rabino teme professor mal preparado

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A comunidade judaica ``é categoricamente contra a implantação do ensino religioso nas escolas públicas", disse o rabino Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista. Cerca de 100 mil judeus vivem no Estado de São Paulo.
Sobel afirmou não se opor ao ensino religioso em si, mas disse estar preocupado com a qualificação dos professores. Segundo o ele, mesmo os mais preparados vão acabar impondo sua própria religião aos alunos.
``Nós que participamos do diálogo inter-religioso levamos anos para aprender quais os conceitos comuns a todas as religiões, e quais aqueles que são incompatíveis com um determinado credo", disse. ``Não se pode esperar que um professor, mal pago e mal preparado, consiga entender, por exemplo, que ensinar uma criança judia a seguir os preceitos de Jesus é contrariar os ensinamentos da fé judaica."
Segundo Sobel, o ensino religioso exige que os professores sejam dotados ``de altíssimo grau de sensibilidade, discernimento e equilíbrio a fim de não impor suas crenças".
Para o rabino, o ensino religioso obrigatório ``é um desrespeito às famílias que optaram por uma educação ateísta".
Segundo Sobel, a comunidade judaica só foi ouvida sobre a questão do ensino religioso três anos atrás, na administração municipal de Luiza Erundina.
A pedido do então secretário municipal Paulo Freire, representantes de várias religiões participaram de debates. Os encontros eram coordenados pelo Movimento de Fraternidade de Igrejas Cristãs (Mofic) e o Conselho de Fraternidade Judaico-Cristão.
``Defendemos um ensino que desperte a religiosidade existente na criança, de forma que possa fazer uma opção consciente", diz Sylvia Gusman de Souza, professora de educação religiosa do Colégio Metodista de São Bernardo e participante do grupo.
``Queremos um ensino ecumênico, não doutrinador, onde se valorize a dignidade humana, e que esteja aberto inclusive aos ateus", diz o padre José Bizon, um dos coordenadores do Mofic. O grupo ainda não foi ouvido pela Secretaria de Estado da Educação.

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