São Paulo, sábado, 26 de agosto de 1995
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Caetano põe MPB a serviço da 'hispanidad'

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde o show ``Circuladô", a voz de Caetano Veloso, a musicalidade de Jacques Morelenbaum e o cenário de Helio Eichbauer formam um trio elegante. É assim em ``Fina Estampa", show que estreou anteontem na nova casa de espetáculos Tom Brasil.
Caetano surge de terno e brilhantina, diante de um imenso painel que parece uma pintura mexicana e evoca toda a América hispânica, rodeado por orquestra.
O repertório do show (26 músicas ao todo) intercala canções do disco ``Fina Estampa" com composições de Caetano e algumas raridades. Entre elas, ``Você Esteve com Meu Bem", música composta por João Gilberto no início dos anos 50, e ``Lábios que Beijei", sucesso na voz de Orlando Silva.
Caetano presta assim seu tributo à MPB e à Bossa Nova (``jeito de cantar moderno que marcou o mundo e transformou o Brasil", como ele define durante o show), neste espetáculo basicamente de músicas hispânicas.
E termina, antes do bis, com ``Soy Loco por Ti, América", que funciona como uma declaração de amor, swingada de um jeito que você nunca ouviu.
O repertório, que, enfim, é muito bem escolhido, inclui ainda a napolitana ``Luna Rossa" e uma versão de ``La Paloma", de deixar arrepiadas as platéias mais ``cults" ou ``blasées".
Anteontem, na estréia, era visível a preocupação de Caetano em sincronizar com a orquestra. Nas primeiras músicas do show, o cantor não estava na sua excelência.
O fato de cantar em espanhol também não ajuda (ele mesmo faz a apologia da doçura da língua portuguesa durante o show). Sobretudo porque Caetano tem uma acuidade de pronúncia (dispensada por João Gilberto em suas gravações em inglês ou mesmo da italiana ``Estate"), que pode interferir na musicalidade.
Mas Caetano é um ``supercantor" (como ele define João Gilberto em entrevista exibida antes do show). Entre outras que faz, canta a venezuelana ``Tonada de Luna Llena" a capela lindamente.
Sua preocupação com a orquestra e com a língua é coisa de estréia. Quem for assistir ``Fina Estampa" neste ou nos dois próximos fins-de-semana, provavelmente não vai ver nada disso.

Tom Brasil
O som da Tom Brasil, se de fato tem a boa acústica elogiada por João Gilberto (e nesse caso não se deve duvidar), também não estava em sua excelência.
Em tempo: o circuito interno de TV da Tom Brasil, que entrevista os ``famosos" chegando ao show, é uma coisa, no mínimo, constrangedora. Uma casa de espetáculos que se pretende a melhor de São Paulo não pode ser tão provinciana assim.

Show: Fina Estampa
Intérprete: Caetano Veloso
Direção musical: Jacques Morelenbaum
Banda: Jacques Morelenbaum (cello e regência), Mingo Araújo (percussão), Luiz Brasil (violões e guitarra), J. Moraes (piano), Marcelo Costa e Tutti Moreno (bateria), Zeca Assunção e Jorge Helder (baixo) e orquestra
Quando: de quinta a domingo, às 21h. Até 10 de setembro
Onde: Tom Brasil (rua Olimpíadas, 66, tel. 820-2326, Vila Olímpia, zona sul)
Quanto: de R$ 35 a R$ 80

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