São Paulo, sábado, 26 de agosto de 1995
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Museu terá orquestra de música antiga

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Masp (Museu de Arte de São Paulo) terá uma Orquestra de Música Antiga a partir de 1996. O regente dela será o flautista brasileiro Ricardo Kanji, 47.
Kanji, um dos músicos brasileiros de maior projeção internacional (leia texto ao lado), está morando de novo no país, depois de 26 anos dando aulas no Conservatório de Haia, na Holanda.
A idéia da orquestra veio de uma coincidência feliz. O conservador-chefe do Masp, o crítico de arte e professor Luiz Marques, tinha o projeto de reavivar o auditório do museu com uma programação musical consistente.
Em julho, soube que Kanji estava voltando para o Brasil, com o projeto de tocar música antiga -que é toda música anterior a Mozart (1756-1791), incluindo-o- em São Paulo.
Acertaram então que o Masp teria uma orquestra de câmara, voltada às épocas medieval, barroca e clássica, com cerca de 20 músicos brasileiros. E chamaram para coordenar o projeto o pianista Pedro Persone, 36.
O primeiro concerto da Orquestra de Música Antiga de São Paulo (cujo acrônimo dá Orquestra do Masp) está previsto para março de 1996. Antes, em 9 de outubro, uma noite beneficente pretende arrecadar dinheiro para a reforma do auditório de 410 lugares que o Masp possui no subsolo.
Com números de vários artistas -o ator Paulo Autran, a soprano Celine Imbert e outros-, a noitada pretende juntar R$ 200 mil para que o auditório se livre de dois problemas: o ruído provocado pela passagem do metrô e os problemas acústicos da sala.
A orquestra, por sua vez, ainda está em busca de mantenedores. A idéia é que sejam quatro empresas a financiá-la com quantias anuais. Uma orquestra desse porte necessita de quase R$ 1 milhão por ano para sustentar a quantidade e a qualidade da programação.
Mais para a frente ela faria um sistema de assinaturas anuais, como é feito por promotoras de música erudita como o Teatro Cultura Artística e o Mozarteum.
A própria existência bem-sucedida dessas empresas faz Marques e Kanji acreditarem que a Orquestra do Masp terá um público cativo para uma orquestra de câmara com músicos de primeira qualidade, que toque um tipo de música que tem reunido platéias grandes no mundo todo desde os anos 60.
Kanji diz que a orquestra começará lidando com instrumentos modernos, mas depois passará aos de época. ``Vamos educando os músicos. Com a facilidade de aprendizado do músico brasileiro, em um ano eles estarão usando instrumentos antigos", diz.
Kanji acha importante executar música antiga com instrumentos da época: ``É impossível reproduzir perfeitamente o passado, mas queremos dar o caráter real da interpretação; é como ler um livro com as palavras de seu tempo".
O projeto da orquestra é ambicioso. Fará duas apresentações semestrais de peso, gravará CDs e será um centro de informação musical para leigos e especialistas.
O último item já está contemplado num programa, elaborado por Persone, com blocos temáticos. Assim, em cada mês um músico ou um instrumento serão tema de palestras, ``masterclasses" (aulas para jovens profissionais) e recitais com solistas convidados.
O violinista Luis Otávio Santos, o cravista Marcelo Fagerlande, a violoncelista Francine Berckmans e outros importantes solistas já foram confirmados. Algumas das apresentações serão acompanhadas pela Orquestra do Masp.

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