São Paulo, sábado, 26 de agosto de 1995
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Os clubes também são vítimas

FERNANDO CASAL DE REY
COMO SE MEDE A GRANDEZA DE UM CLUBE?

Certamente por suas conquistas e sua torcida, em uma estreita relação de causa e efeito. Já imaginaram como seria o futebol sem a presença do torcedor?
A rivalidade saudável, que sempre marcou os jogos entre os grandes clubes paulistas na época romântica do futebol -especialmente nos anos 40 e 50-, em muito contribuiu para o desenvolvimento do futebol paulista e brasileiro.
As alegres e inofensivas torcidas organizadas, que incentivavam seus times com gritos de guerra e refrãos ingênuos, foram engolfadas por verdadeiros guerrilheiros urbanos, que passaram a encarar adversários como inimigos a serem abatidos.
O que vem acontecendo de alguns anos para cá, em escalada, culminando com a batalha campal do último domingo (20/8) no Pacaembu, nos leva a refletir, repensar e mudar conceitos. A violência dos grupos organizados, que usam o esporte como pretexto para extravasar seus instintos mais primitivos, tem de ser contida.
A hora é agora! A sociedade indignada assim o exige. Os clubes podem contribuir com idéias para a solução do problema. Nós, no São Paulo F.C., estamos preocupados com a questão, e não é de hoje.
Ao assumirmos o mandato convidamos para a assessoria de relações públicas o coronel Celso Feliciano de Oliveira, ex-comandante-geral da Polícia Militar, de grande experiência nessa área de relacionamento.
Seu primeiro trabalho para esta diretoria teve o título de ``A torcida uniformizada e o clube", em que levanta temas como o uso inadequado das cores e símbolos do clube, a natureza jurídica das torcidas organizadas, a promoção de seminários, encontros, eventos de convivência social, estudos e pesquisas de comportamento.
No projeto de reforma dos estatutos, em andamento, está prevista a criação da figura do sócio-assistente (torcedor), com direitos e obrigações. Pode estar aí um importante passo para desarmar as torcidas organizadas.
Nos estádios, aboliu o alambrado, substituído por estruturas tubulares. A invasão de campo é crime, como também o arremesso de objetos e os cânticos ofensivos. Os movimentos dos torcedores são registrados em monitores de TV.
Mas foi principalmente em razão da elaboração de leis rígidas, que dão aos juízes poder e agilidade, que os índices de violência e criminalidade apresentaram recuos significativos. É preciso fazer o mesmo aqui. O sentimento de impunidade alavanca os atos anti-sociais. No contexto, os clubes são tão alvos e vítimas como toda a sociedade.

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