São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Abertura na mídia traria US$ 1 bilhão

DA REPORTAGEM LOCAL

Investimento de até US$ 1 bilhão seria canalizado para a mídia no Brasil no prazo de dois a três anos caso não houvesse impedimento legal à associação de empresas de comunicação nacionais com o capital estrangeiro.
A previsão é de Octavio de Barros, 39, diretor da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), que projeta em US$ 6 bilhões o ingresso de investimentos estrangeiros no país no ano que vem.
Atualmente, o artigo 222 da Constituição reserva exclusivamente a ``brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos" a propriedade de empresas jornalísticas e de radiodifusão (exceto as TVs a cabo).
``Não tenho a mais remota dúvida sobre o interesse dos investidores internacionais, principalmente em relação à mídia eletrônica", diz Barros, ao elencar quatro razões para justificar sua afirmação:
1) O efervescente quadro internacional de fusões e aquisições, de que é exemplo a recente compra, pela Walt Disney Co., da rede de TV norte-americana ABC por US$ 19 bilhões.
2) A onda de diversificação que faz conglomerados internacionais, até mesmo sem vocação para a área de comunicação, apostarem nesse setor.
3) A complexa infra-estrutura de telecomunicações já existente no país.
4) A maturidade profissional da mídia, evidenciada sobretudo por veículos que operam no eixo São Paulo-Rio. ``Isso diminui os riscos aos olhos do investidor", afirma o diretor da entidade.

Abertura à competição
``O setor de comunicação é um dos poucos não completamente abertos à competição estrangeira", afirma Rodrigo Andrade, 37, vice-presidente do J.P. Morgan, um dos principais bancos de investimento norte-americanos.
Andrade diz que os investidores seriam atraídos para o setor de comunicação mesmo se fosse preservada, na nova legislação, a cláusula que reserva o controle da empresa a brasileiros natos.
``Uma participação restrita a 20% ou 30% do negócio seria razoável", afirma ele. Segundo o executivo, os investidores encontram limitações desse tipo na maioria dos mercados nos quais estão habituados a operar.
Os principais beneficiados, segundo ele, seriam os brasileiros residentes nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que assistiriam ao surgimento de novos jornais e emissoras de rádio e TV.
A entrada de dólares no setor de comunicação possibilitaria alavancagem de capital suficiente para a elevação da qualidade da imprensa fora do eixo São Paulo-Rio.
``Atualmente há uma limitação de capital dos grandes grupos de comunicação para liderar essa modernização em escala nacional", diz Andrade, ao citar que 30% dos investidores da Bolsa de Valores são estrangeiros e, portanto, estão impedidos de aplicar recursos nas empresas de comunicação.
Bernardo Parnes, diretor da corretora norte-americana Merrill Lynch no Brasil, acha difícil especificar o valor, mas considera que o mercado se tornaria ``de muito interesse" para o capital externo.
A Merrill Lynch é uma das maiores corretoras do mundo e especializada em investimentos transnacionais.
Segundo Bernardo Parnes, uma eventual abertura do mercado de comunicação ``atrairia estrangeiros para negócios já existentes aqui no Brasil".
Seria mais fácil, na opinião do diretor da Merrill Lynch, um investidor internacional associar-se com alguém já estabelecido no mercado do brasileiro que encontrar um novo nicho para lançar um publicação nova.

LEIA MAIS
sobre a expectativa de ingresso de capital estrangeiro nos meios de comunicação brasileiros na edição de amanhã da Folha.

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