São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Empresários do setor defendem mudança na lei

DA REPORTAGEM LOCAL; DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA; DA SUCURSAL DO RIO

Empresários de comunicação brasileiros consultados pela Folha são, em maior ou menor grau, favoráveis à entrada de capital estrangeiro no setor.
A Folha entrevistou executivos de empresas de comunicação. Há os que defendem a abertura total e os que pedem alguma limitação. Ninguém declarou ser contrário à abertura do mercado.
``Eu não tenho absolutamente nada contra a entrada de capital estrangeiro em qualquer setor da economia", diz Guilherme Stoliar, 39, vice-presidente do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), propriedade do empresário e apresentador de TV Silvio Santos.
Para Stoliar, ``era o caso de rediscutir o assunto" no Congresso. ``Agora que permitem até 49% de capital estrangeiro em TVs a cabo, acho que todos devem estar no mesmo saco", afirma.
``Em princípio, não tenho restrição alguma em relação à entrada de capital", diz Júlio César Mesquita, 43, diretor do jornal ``O Estado de S.Paulo".
Para Mesquita, entretanto, ``é preciso ver com muito cuidado a entrada delas (empresas estrangeiras de comunicação) no Brasil". O diretor de ``O Estado" acha importante que as empresas brasileiras negociem com o capital estrangeiro de modo a ``manter o controle e a identidade".
``Na empresa que eu represento, defendo que a família proprietária mantenha sempre o controle do capital acionário", diz Júlio César Mesquita.
O diretor corporativo do ``Jornal do Brasil", Nelson Batista, 43, é favorável à abertura das empresas de comunicação ao capital estrangeiro, desde que o controle acionário fique com brasileiros.
Ele defende também que pessoas jurídicas possam deter até 49% das ações de uma empresa do setor. O controle acionário deveria ser mantido por uma pessoa física, segundo ele, porque uma empresa não pode ser responsabilizada por atitudes que um jornal pode tomar e que resultem em acontecimentos negativos à sociedade.
João Vieira, diretor da rede CNT (Central Nacional de Televisão), é a favor da abertura e tem uma fórmula para isso.
``Sou pelo princípio da reciprocidade. Ou seja, o mesmo tratamento recebido no país de origem. Em muitos países da Europa, por exemplo, o setor de comunicação é estatal. Em outros, admite-se a abertura para empresas estrangeiras, desde que com sócios locais".
O vice-presidente e principal executivo do jornal ``O Dia", do Rio, Walter de Mattos Júnior, é ``absolutamente a favor" da abertura das empresas jornalísticas ao capital estrangeiro. ``Isso iria modernizar barbaramente", diz.
Segundo ele, o Brasil está ``atrasado em corrigir distorções" da legislação. Uma restrição que deveria cair, segundo Mattos, é a que impede o controle das empresas de comunicação por pessoas jurídicas.
``Estando as ações restritas a pessoas físicas, as empresas praticamente não podem colocar ações no mercado, os fundos de pensão não podem comprar", diz Mattos.
Luís Frias, 32, presidente da Empresa Folha da Manhã S/A, que edita a Folha, é favorável à entrada do capital estrangeiro nas comunicações, ``desde que o controle acionário fique em mãos de brasileiros e desde que sejam resguardadas a necessária transparência e a proibição do monopólio".
A Folha tentou ainda falar sobre o assunto com os empresários Roberto Irineu Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, e Jayme Sirotsky, presidente do conselho de administração da RBS, que, no entanto, estavam viajando. Roberto Civita, diretor-presidente do grupo Abril, e João Carlos Saad, vice-presidente da Rede Bandeirantes, não responderam aos telefonemas da Folha.

Colaboraram a Agência Folha, em Curitiba, e a Sucursal do Rio

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