São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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KALUNGUEIRAS

MARIO CESAR CARVALHO

Revólver - É o primeiro bem que um kalunga compra quando tem dinheiro e o presente predileto dos meninos. Nos cinco dias de festas do Império, que reuniu 1.500 pessoas há duas semanas, a polícia não registrou nenhuma agressão nem furtos. ``Eles compram revólver para dar tiros para o alto. Usam como se fosse rojão", diz o soldado Milton Santos, 32, da cidade de Teresina de Goiás.

Casamento na fogueira - Padre só aparece no Vão de Almas uma ou duas vezes por ano. Os que não querem esperar são casados em volta de uma fogueira por uma espécie de sacerdote kalunga. Quem não casa na fogueira não pode ficar junto nas festas.

Mãe solteira - Não existe esse conceito entre os kalungas. Quando uma mulher tem um filho antes do casamento, o futuro marido assume a criança como se fosse sua.

Couro de vaca - É mais procurado pelos kalungas do que a própria carne. É usado para fazer selas e arreios de cavalo, produtos de primeira necessidade no mato. Um quilo de carne, qualquer que seja o pedaço, custa R$ 2,00. O couro não sai por menos de R$ 25,00.

Cabelo liso - A moda de alisar as carapinhas chegou aos kalungas. Helena Rodrigues dos Santos, 41, mascate e ex-professora na região, alisou o cabelo de dez garotas em dois dias. Usa a água do rio das Almas para fazer o trabalho e diz cobrar só o preço do produto, Ene-Charm -R$ 5,00.
(MCC)

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