São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Novo livro sai em 96

PLÍNIO FRAGA
DA REDAÇÃO

Além da coluna semanal na Folha, Darcy Ribeiro dedica-se ao projeto de um novo livro. Revê 800 páginas de anotações de um diário que fez em 1949 e 1950, durante expedições a aldeias dos índios kaapor, na divisa do Pará com o Maranhão. Pretende concluí-lo no ano que vem. Bem-humorado, ri da doença que sofre: ``Meu câncer não é dos que matam não, só incomoda." A seguir, leia trechos da entrevista que concedeu à Folha.

Folha - O sr. enfrenta o câncer trabalhando cada vez mais. Em que projeto se concentra agora?
Darcy Ribeiro - Preparo para edição texto de 800 páginas, um diário de duas expedições que fiz junto aos índios kaapor, que vivem no rio Gurupi, entre o Maranhão e o Pará. É muito longo. Sempre pensei em subsumir, tirar do diário as informações sobre economia, religião, etnologia e artes e ir escrevendo sobre elas. Cheguei à convicção de que o leitor merece acompanhar o antropólogo. É dar a mão e caminhar mil quilômetros pela mata. Passar por cem aldeias diferentes, conhecendo a gente de cada uma e vendo como vou construindo o conhecimento etnológico com todas as suas contradições. Já está meio contratado por uma editora da França. Aqui não escolhi ainda o editor.
Folha - A análise corrente é que há uma crise no ideário de esquerda, à qual o sr. se alinha. Esta se defende dizendo que a crise é mais ampla, das idéias em geral.
Darcy - Acho que são as duas coisas. Evidentemente, a esquerda está em crise. Ainda não saiu da paulada que recebeu com a liquidação do comunismo soviético, que não era o ideal de nenhum de nós, mas que aparecia como socialista. Um outro aspecto fundamental é que o mundo está mudando com uma rapidez prementíssima e não sabe para onde vai. Nunca houve tanta dúvida quanto hoje. Estamos desafiados a definir um futuro que é o Brasil que os brasileiros querem. Uma utopia que no meu sentido é socialista.
Folha - Nos seus livros, o sr. formula diversas vezes uma pergunta: por que o Brasil ainda não deu certo?
Darcy - É um motivo para o pessoal ler a coluna. Ainda estou procurando saber.
Folha - Como o sr. tem reagido ao câncer?
Darcy - Fiz um check-up nesta semana e estou bem. Câncer é muito chato. Mas pior do que ele é o tratamento: me derrubou os cabelos, tive uma pneumonia terrível. O câncer incomoda. Para andar tenho que usar bengala, por exemplo. Mas o meu câncer não é dos que matam não, só incomoda.

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