São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Desconfiança afeta os juros do CDI

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os negócios de um dia entre bancos com títulos privados (CDI) estão pagando um juro menor do que os feitos com títulos públicos (over-Selic). A razão: desconfiança ou, como preferem os operadores do mercado, risco de crédito.
Na prática, como só tem acesso ao crédito no CDI banco que tem a ``ficha limpa" (com menor risco), o juro cobrado é também menor.
Assim, a queda das taxas a partir do dia 15 reflete uma política mais seletiva na concessão de crédito, que atinge consumidores, empresas e também bancos.
Segundo os dados disponíveis do Cetip (computador que registra as operações feitas com títulos privados), o volume em dinheiro das operações registradas no CDI não sofreu queda. Ao contrário. Passou de R$ 13,8 bilhões, no dia 2 de agosto, para R$ 14,5 bilhões, no dia 21. Mas o número de operações foi reduzido: de 1.184, no dia 2, para 901, no dia 21.
O que está acontecendo é que praticamente o mesmo volume de dinheiro é movimentado entre um número menor de bancos.
Isto pode significar que o dinheiro está ``empoçado" -há bancos com recursos pela testa e outros, pelo tornozelo.
Os bancos com o caixa cheio estão preferindo emprestar recursos para outras instituições no over-Selic. Nesse caso, a garantia da operação não é mais um título privado (emitido por bancos), mas público, garantido pelo Banco Central. Assim, o risco assumido pela instituição que empresta dinheiro é nulo. O BC garante.
É este mercado, em que o dinheiro está empoçado, que vai receber amanhã uma injeção de R$ 7,9 bilhões -graças à redução de compulsórios.
Esses recursos, dizem os analistas, vai melhorar a situação de instituições que eventualmente enfrentem problemas de caixa. É que a seletividade no crédito vai permanecer.
Os bancos continuam seletivos; os clientes também.
Segundo levantamento feito com base nas informações disponíveis sobre o patrimônio dos fundos de investimento, há alguma migração de recursos.
Até o dia 18, os fundos de investimento do Bradesco, Real, Itaú, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal registraram crescimento expressivo das aplicações. Os números precisos são, respectivamente, 10,3%, 7,1%, 5,5%, 4,7% e 4,3%. O rendimento do período é de 1,8%. Em outras instituições, os saques superaram os depósitos.
(JCO)

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