São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Sonegação é pacto político

DEMIAN FIOCCA

A sonegação é o item principal da presente estrutura tributária. A própria Receita Federal estima que se perdem cerca de 50% do que por lei deveria estar nos cofres públicos. É mais do que qualquer imposto que exista ou deixe de existir. E isso ocorre por opção política.
Em maio de 93, quando da nomeação de Osiris Lopes Filho para chefiar a Receita, Janio de Freitas informava nesta Folha que parlamentares ligados ao PFL, a Maluf e a Sarney pressionaram o então presidente Itamar contra sua indicação.
O novo secretário começou a substituir os superintendentes, digamos, de menor confiança. Dois meses depois aflorou o escândalo Pau Brasil, envolvendo a suspeita de financiamento ilícito das campanhas de Paulo Maluf. A melhor fiscalização das empreiteiras levou à arbitragem de multas que chegaram a US$ 500 milhões.
Não se trata de dizer que o político tal, esta ou aquela empresa são os vilões da história. É pior. O equilíbrio de poder na sociedade, no qual pesam brutalmente o poder econômico privado, o pensamento conservador e o cinismo, mantém no país a pior distribuição de renda do mundo. Assim, a sonegação é tratada como um inconveniente necessário para manter as coisas como estão.
A carga tributária sobre as classes média e baixa é pesada, pois quem mais deve quase não paga. A proposta do governo de permitir que a fiscalização tributária tenha acesso às contas bancárias dos suspeitos de sonegação é um auspicioso início. Mas de pouco servirá se a Receita não for reaparelhada.

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