São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Japão é indiferente a latino-americanos

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Aconteceu no auditório da Folha, na última sexta-feira, o 5º Encontro Brasileiro de Estudos sobre Japão e Pacífico.
O debate central do encontro aconteceu em torno das conclusões de um projeto de pesquisa coordenado pelas universidades de Kobe e da Califórnia sobre integração econômica nas Américas e no Pacífico.
O professor Shoji Nishijima, da Universidade de Kobe, resumiu os resultados na idéia de que a América Latina, entre as alternativas da cooperação e da rivalidade com outros pólos econômicos mundiais, deve buscar um caminho que evite a assimilação passiva a alguma potência.
O caminho para evitar a simples adesão, construindo um cenário de convergência com os outros pólos, passaria, segundo Nishijima, pelo fortalecimento dos blocos sub-regionais, como o Mercosul.
Seria a melhor forma de ao mesmo tempo acenar com o apoio ao Nafta, por exemplo, preservando algum poder de negociação.
Curiosamente essas conclusões, que constam de um documento que será publicado em inglês e em japonês até o final do ano, são bastante parecidas com os cenários mais frequentes no meio diplomático brasileiro.
O contraponto à visão de Nishijima foi apresentado pelo professor Henrique Altemani de Oliveira, da Universidade de Brasília.
Entre a cooperação e a rivalidade entre os blocos americanos e asiáticos, Altemani é mais cético: alerta para o estado de virtual indiferença com que os asiáticos, especialmente os japoneses, encaram a América Latina.
O especialista da UnB vê pouco ou quase nenhum progresso na visão que os asiáticos têm do Brasil, por exemplo, como fornecedor de matérias-primas que, no máximo, chegam à sofisticação de uma soja ou de um suco de laranja.
E a importância do mercado brasileiro no conjunto das exportações japonesas tem apenas decaído desde o início dos anos oitenta.
Nishijima rebateu, sem propriamente discordar, lembrando que o destino das relações entre a América Latina e o pólo asiático depende, em última análise, do que pensam, desejam e decidem os Estados Unidos. E que o destino do Mercosul, possível arma de negociação, depende crucialmente do sucesso do Plano Real.
Enquanto as políticas cambiais no Brasil e na Argentina estiverem fora de sintonia, tudo é sonho.
O debate acendeu-se ainda mais com as intervenções do embaixador Amaury Porto de Oliveira, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.
Ex-embaixador em Cingapura, Oliveira destacou a falta de preparo das elites brasileiras para compreenderem o modelo asiático.
Lembrou, com ironia, do conclave de acadêmicos internacionais convocado pelo presidente FHC para marcar o início de sua ``era": não havia um especialista sequer em temas asiáticos entre os cardeais.
Parece assim que a indiferença é mútua e as possibilidades de construir um novo padrão de relacionamento entre América Latina e Ásia estão numa terrível baixa histórica. Ao coordenador do encontro, constrangido, nada mais restou senão sorrir amarelo.

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