São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Ação do BC faz oferta de dinheiro subir desde julho

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde julho, a oferta de dinheiro tem crescido. É o resultado de duas ações do governo.
A primeira foi a de criar as condições para o recomposição das reservas internacionais (o caixa do país em moeda forte). O que significou, em suma, juros elevados.
A segunda ação do governo, mais recente, foi a redução dos depósitos compulsórios (que são recursos que os bancos são obrigados a depositar no BC, reduzindo a quantidade disponível para emprestar ao setor privado).
Os compulsórios foram sucessivamente criados para frear a economia -que crescia a um ritmo de 10% ao ano no primeiro trimestre de 1995- e possibilitar a volta de superávits comerciais (exportações maiores que importações).
As torneiras funcionaram. Ingressaram no país o equivalente a R$ 12 bilhões de investimentos estrangeiros desde julho.
Outros R$ 2,5 bilhões entraram, em julho, por conta do redesconto (uma linha de empréstimos que o BC mantém para ajudar bancos com problemas). Em agosto, com a queda dos compulsórios, ingressaram R$ 7,9 bilhões.
No próximo dia 11, mais R$ 3,6 bilhões devem entrar por conta da redução de 30% para 15% do compulsório sobre a poupança.
Ou seja, no dia 11, o BC vai devolver aos bancos cerca de 23% de tudo o que recolheu desde setembro do ano passado. Essa injeção de recursos na economia não será neutra. Terá consequências, mas, segundo avaliação dos economistas ouvidos pela Folha, pelo menos no curto prazo uma delas está descartada: mais crédito.
Para o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, nem as pessoas físicas estão dispostas a assumir novos empréstimos nem os bancos estão dispostos a emprestar mais.
``A classe média está pagando as dívidas renegociadas e passou por uma experiência muito dolorosa, que é a inadimplência. Será, agora, mais cautelosa", afirma.
Os bancos, diz o secretário, estão praticando a forma de racionamento de crédito mais eficiente de todas: a voluntária.
É que a crise de confiança desencadeada pela intervenção no Banco Econômico, como a chamou o ex-ministro Mário Henrique Simonsen, acabou se somando à da inadimplência.
Desta maneira, as vias que ligam os bancos ao setor privado ficaram entupidas. Restou a que liga ao setor público: a aplicação dos recursos em títulos do governo.
No mês de julho, último dado oficial divulgado, a dívida interna cresceu 18,3%. Esse percentual supera o crescimento acumulado da dívida em todo primeiro ano de Plano Real, que foi de 16,8%.
Simonsen diz que o problema não é o tamanho da dívida, já que ela está ``lastreada (garantida) nas reservas", mas seu custo -que é dado pelo diferencial dos juros pagos no Brasil e os praticados no exterior.
O custo também preocupa o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, que diz que a atual política acaba aumentando o déficit fiscal (despesas maiores que a arrecadação).
Fábio de Oliveira, do Banco de Boston, afirma que não faz qualquer sentido o tamanho atual dos juros. Para ele, uma taxa menor teria exatamente o mesmo efeito sobre o consumo, ``mas a despesa do governo diminuiria".
Segundo Oliveira, o ingresso de recursos pode ter um outra implicação: fazer voltar a crescer as importações perto do Natal, quando o consumo é mais elevado.
``Novembro e dezembro serão meses decisivos", concorda Celso Scaramuzza, presidente da comissão de Captação da Febraban (a federação que reúne os bancos).
Ele lembra, porém, que o próprio aumento da procura por títulos públicos pode ajudar a empurrar os juros para baixo.
É o que espera Mendonça de Barros, que projeta, para o final desse processo de ajuste, mais dinheiro na economia.
(JCO)

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