São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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`A Hora dos Ruminantes' segundo Person

LUÍS SÉRGIO PERSON

Sequências 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 - vários cenários - manhã ensolarada.
Várias imagens diferentes de pessoas nas ruas, à margem do rio, em janelas e em postes de luz. Algumas estão surpresas, outras não. Todas olham para o acampamento dos estranhos, apontam e discutem com muita gesticulação. Ouvem-se perguntas e exclamações de toda espécie.
Diversos comentários: ``Meu Deus!", ``Que é isso?", ``Jesus!", ``Que diabo é isso?", ``O inferno abriu as portas", ``Não pode ser nada de bom!", ``Deus!", ``Como é que isso foi acontecer tão rápido?", ``Jesus Cristo!", ``Assim da noite para o dia?", ``Nunca vi nada parecido, ``Deus nos ajude!", ``Vá adivinhar o que é isso..."
Cenas de pessoas pendurando-se ou trepadas em postes telefônicos ou qualquer outro lugar que ofereça uma boa visão do acampamento.
Alguns garotos formam uma pirâmide humana para que o garoto no topo possa observar tudo.
Continua a música.
Sequência 13 - na frente da loja de Amâncio - manhã ensolarada
À porta da loja, um pequeno grupo olha na direção do acampamento.
Amâncio, o dono, está em meio ao grupo.
Continua a música.
Sequência 14 na cidade - em frente à igreja - manhã ensolarada
Mandovi e um outro garoto correm para o padre Prudent, que está em frente à porta da igreja.
Eles puxam sua batina e perguntam:
Garotos - Podemos subir na torre, padre? Por favor, padre, podemos? Dá para ver melhor de lá.
Padre - Ver o quê, meus filhos?
Garotos- Os homens lá do outro lado do rio!
Padre- Está bem, mas tomem cuidado.
Os garotos correm para dentro da igreja.
Continua a música.
Sequência 15 - na cidade - uma rua com vista para o rio - manhã ensolarada
Geminiano, um carroceiro forte, alto, negro e de meia-idade, freia sua carroça e sobe ao banco para contemplar a margem oposta do rio.
Continua a música.
Sequência 16 - o acampamento visto do alto da cidade - manhã ensolarada
O acampamento, com sua fumaça subindo em espirais, é visto a partir da cidade. Os estranhos estão em intensa atividade, que contrasta com a atitude passiva dos habitantes da cidade, que os observam.
Continua a música.
Sequência 17 - na cidade - rua com vista para o rio - manhã ensolarada
O grupo da sequência quatro avolumou-se.
A música vai morrendo.
Entreolhando-se, olhando de novo para o acampamento, as pessoas conversam:
2º homem - Vamos lá ver quem são eles, o que eles estão querendo.
3º homem - Isso mesmo. Vamos descobrir isso duma vez!
1º homem - Essa é boa: eles chegam, armam o acampamento sem nem pedir licença. Assim não dá!
2º homem - Temos que ir lá.
4º homem - (bastante rechonchudo e de ar respeitável) Melhor não. Se eles são orgulhosos, sejamos também. Afinal de contas, por que ir lá rastejando?
3º homem - Deixa pra lá. Talvez eles queiram se instalar antes de aparecer por aqui. Ora bolas, uma hora ou outra eles vão aparecer por aqui, não acham?
1º homem - É verdade, melhor esperar um pouco do que ir lá correndo.
3º homem - Logo, logo eles estarão por aqui.
Os homens ficam quietos por um instante observando uns aos outros. O acampamento aparece ao fundo.
Depois da última frase, o violão começa a tocar a música-tema.
Sequência 18 - na cidade - praça central - de noite
Perspectiva da praça central ao pôr-do-sol.
Algumas pessoas passeando, algumas sentadas na calçada ou à porta de suas casas. As lojas estão abertas e iluminadas, apesar de vazias.
A voz do cantor comenta: ``A gente de Marinema é pacífica e sabe acolher quem quer que venha em paz. É por isso que as portas e as lojas estão abertas apesar da hora. Estão esperando que os estranhos apareçam. Seria uma pena se eles precisassem de alguma coisa e encontrassem tudo fechado. (Há quem faça alusões aos comerciantes, que esperam vender e ter lucros com os estranhos. Deve-se ter em mente que Marinema é carente de quase tudo e que um pouco de sangue novo, quer dizer, de dinheiro, nunca fez mal a ninguém".

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