São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995 |
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O poder está próximo, diz feminista
SASKIA REILLY
Naomi Wolf ficou conhecida com seu primeiro livro, "The Beauty Myth" (``O Mito da Beleza"), e levou adiante sua filosofia do "feminismo do poder" em seu livro mais recente, "Fire with Fire" (``Fogo com Fogo"). Os críticos afirmam que seu feminismo se limita às mulheres ricas e instruídas -e sobretudo às mulheres nessas condições. Pergunta - O que é o "feminismo do poder"? Naomi Wolf - Nas democracias representativas, as mulheres estão em condições não apenas de ter igualdade, mas de ser a força motriz. Nos países ocidentais, as mulheres compõem 53% da sociedade. Há mais eleitoras do que eleitores. Nos EUA, a disparidade é de 10 milhões a 12 milhões de votos. As mulheres no Ocidente também já se infiltraram na mídia e no mundo profissional. Se as mulheres seguirem meu plano de jogo, poderemos modificar o equilíbrio de poder dentro de uma geração -ou mesmo nas próximas eleições americanas. As mulheres precisam se distanciar da psicologia do ``esperar que o papai nos dê o que queremos". Essas mudanças aconteceram porque nós as exigimos. O terremoto feminista é uma oportunidade de transformação política. Pergunta - Quais as maneiras de atingir esse poder? Wolf - Inicialmente, pelo dinheiro. Nos EUA há um grupo de lobby chamado Emily's List, que dá dinheiro a mulheres favoráveis ao direito ao aborto. O grupo procura mulheres promissoras nas diferentes comunidades e as ensina a fazer campanha. Também temos muito poder como consumidoras da mídia. Podemos exercer um poder tremendo, boicotando anúncios publicitários ou ameaçando cancelar assinaturas de publicações. Trata-se de usar o dinheiro, não apenas argumentos morais. Pergunta - Seus críticos dizem que você não leva em conta os avanços conquistados pelas mulheres nos últimos tempos. Wolf - É claro que as mulheres estão em situação melhor hoje do que jamais estiveram. As mulheres estreitaram a margem de disparidade salarial com os homens. Há um número recorde de mulheres no Congresso norte-americano. Todos os dias vemos mulheres rompendo novas barreiras. Apesar disso, apenas 5% das posições superiores nas empresas da lista "Fortune 500" (as 500 maiores dos EUA) são ocupadas por mulheres. Ainda existe uma disparidade salarial absurda entre homens e mulheres, de 20 a 30%. Embora a situação das mulheres esteja infinitamente melhor do que era há dez anos, em parte como resultado do movimento feminista revigorado, ainda não é a situação que elas merecem. Pergunta - Seu feminismo é aplicável apenas às mulheres americanas? Wolf - Boa parte de minha análise do poder das mulheres é baseada nos acontecimentos históricos recentes nos EUA. Mas também se baseia nos ecos desses acontecimentos no Primeiro Mundo. As mulheres na França e nos EUA lêem as mesmas revistas "Cosmopolitan" e vêem os mesmos anúncios. Elas fazem parte da cultura consumista global e de uma divisão compartilhada de uma democracia representativa. Pergunta - O que dizer das mulheres pobres do mundo inteiro e dos países onde as mulheres não podem votar? Wolf -As táticas do feminismo do poder são as táticas de Gandhi e Martin Luther King. São as táticas da greve de usuários de ônibus no sul dos EUA, para acabar com a segregação racial. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Feminista se diz sobrecarregada Próximo Texto: Escritora quer "religião feminina" Índice |
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