São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Escritora quer "religião feminina"

SASKIA REILLY
DO "WORLD MEDIA"

A poeta, romancista e contista norte-americana Alice Walker, 51, tem um histórico de desafiar as tradições e inspirar transformações. Nascida em uma família de meeiros no sul dos Estados Unidos, ela confrontou-se com racismo, ignorância e ódio. Buscou refúgio tornando-se escritora.
Seus livros mais famosos, "A Cor Púrpura" e "Possessing the Secret of Joy" (Possuir o Segredo do Prazer) tratam da opressão sofrida por mulheres e negros na sociedade norte-americana. Ela dá apoio à Conferência da Mulher.

Pergunta - A autonomia sexual tem sido um tema sempre presente em sua obra. Muitas pessoas atribuem à sra. a divulgação pública da questão da mutilação genital, com seu livro ``Possessing the Secret of Joy". O que aconteceu depois?
Walker - A questão da mutilação genital tem entrado e saído dos noticiários, mas para cem milhões de mulheres pelo mundo afora continua sendo uma questão crucial. Acho que o silêncio foi rompido. As mulheres nesses países sabem que já não é segredo. A impressão que tenho é que talvez o problema tenha começado a penetrar a consciência mundial.
Pergunta - Assim como algumas religiões e culturas no mundo impõem a mutilação genital, outras religiões negam o acesso ao aborto e à contracepção. Como reagir a isso?
Walker - As mulheres devem questionar totalmente toda religião de que já ouviram falar, porque normalmente elas são contrárias aos interesses das mulheres.
As mulheres precisam acreditar que são seres pensantes. A partir dessa compreensão elas podem criar uma espiritualidade e uma religião que seja adequada a sua própria experiência e que as ajude a enfrentar a vida neste mundo.
Pergunta - A sra. tem alguma mensagem para as mulheres do mundo e para as que estarão presentes à Conferência?
Walker - Eu gostaria de dizer a elas que as notícias de suas lutas chegam até as mulheres do mundo inteiro e nos dão forças. Por exemplo: Wangari Mathai (ativista ambiental queniana) -ela me encoraja diariamente. Eu penso nela. Tenho uma foto dela e me sinto forte toda vez que olho para ela. Acabo de assistir a um filme sobre Phoolan Devi, a ``rainha bandida" indiana (forçada a se casar aos 11 anos com um chefe de quadrilha, revoltou-se contra a violência indiana). O simples fato de saber que ela usou seu ódio para lutar é uma coisa boa. Precisamos ver a cara de nossa raiva. Há muitas mulheres na conferência que estarão saindo de lutas como essa, e essa é a melhor luz possível para orientar as mulheres de todo o mundo. Sei como é difícil continuar lutando.

Tradução de Clara Allain

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